sexta-feira, 1 de outubro de 2021

A exposição nacional de 1861

 

Como forma de estimular a participação de expositores na exposição interacional que se realizaria em Londres em 1862 o governo imperial promoveu Exposições Nacionais. Uma primeira exposição nacional foi realizada na Corte do Rio de Janeiro, na Escola Central, no largo de São Francisco, hoje Escola Politécnica do Largo de São Francisco em 2 de dezembro de 1861 (aniversário do Imperador Pedro II),  sob a iniciativa da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional na gestão de Marques de Abrantes (Miguel Calmon Du Pin e Almeida) e do Imperial Instituto Fluminense de Agricultura (IIFA)[1] .Entre os produtos expostos na Exposição de 1861 destacam-se espécies da fauna, plantas e produtos agrícolas e também produtos industriais como uma moenda a vapor produzida pela fábrica de Ponta da Areia (que seria escolhida para a exposição de Londres em 1862), uma máquina a vapor produzida pelo Arsenal da Marinha e uma moenda a vapor invenção de José Maria da Conceição Júnior. O farmacêutico Theodoro Peckolt, que conheceu o naturalista Philipp von Martius[2] que esteve no Brasil de 1817 a 1822,  pode expor seus produtos da flora brasileira em 1861. Por sua participação na Exposição de 1861, Theodoro Peckolt recebeu do imperador a Ordem da Rosa. Theodoro Peckolt havia se estabelecido em Cantagalo entre 1851 e 1868 onde mantinha um laboratório de pesquisa. Na década de 1870 coordenou o Laboratório Químico do Museu Nacional onde pode estudar diversos medicamentos indígenas como a agoniadina, anchietina, andirina, angelina e carobina, além da doliarina, princípio ativo da gameleira[3]. Segundo Hermann von Ihering: “Não conhecemos outro exemplo de naturalista, versado igualmente em estudos botânicos e químicos, que tão profundamente tivesse estudado e esclarecido por investigações próprias o estudo econômico, farmacêutico e químico de qualquer flora tropical”.[4] Na perspectiva da SAIN a primeira exposição nacional reconhecia o potencial das províncias e atestava o que o Brasil estava em condições de apresentar no exterior, no entanto, reconhecia a necessidade de melhoramentos na indústria fabril. Para Monica Martins: “Pelo Auxiliador da Indústria Nacional é notório como esse esforço foi um passo importante para as avaliações da SAIN sobre vários aspectos relacionados à produção no país [...] Há de se destacar, no entanto, que essas possibilidades abertas pela catalogação e pela exibição, pelo envolvimento de diferentes províncias e produtores nas exposições, todo esse aparato esteve voltado aos interesses mais diretamente ligados a setores muito restritos da produção nacional; produção circunscrita ao estímulo a determinados setores da agricultura e profundamente ligada aos interesses externos [...] Essa voz das exposições não falava apenas da capacidade produtora do Brasil, mas também do país que optava por se posicionar na esfera de dependência dos países industrializados”.[5]



[1] FILGUEIRAS, Carlos. Origens da química no Brasil, Campinas:Ed. Unicamp., 2015, p.318

[2] FILGUEIRAS, Carlos. Origens da química no Brasil, São Paulo: Unicamp, 2015, p. 279

[3] EDLER, Flavio Coelho. Boticas & Pharmacias: uma história ilustrada da farmácia no Brasil, Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2006, p. 77

[4] SANTOS, Nadja Paraense dos. Theodoro Peckolt: a produção científica de um pioneiro da fitoquímica no Brasil. Hist. cienc. saude-Manguinhos,  Rio de Janeiro ,  v. 12, n. 2, p. 515-533,  Aug.  2005 .   http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702005000200018

[5] MARTINS, Monica. O espetáculo da economia: a Primeira Exposição Nacional da Indústria no Império do Brasil, em 1861, Topoi. Revista de História | Volume 21, Número 44 | Maio – Agosto 2020, https://revistatopoi.org/site/numeros-anteriores/topoi-44/





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