segunda-feira, 18 de outubro de 2021

O conhecimento na metalurgia do ferro pelos africanos

 

Russell Wood mostra que o conhecimento dos negros em metalurgia era muitas vezes usado para adulteração do ouro misturando-o com enchimentos de prata, ferro e cobre.[1] Para Russel Wood sem a “transferência de tecnologia” em metalurgia dos negros africanos provavelmente a exploração de ouro no Brasil e diamantes não teria alcançado a dimensão desejada pela Coroa portuguesa, pois os portugueses não tinham tal expertise.[2] Em 1789 em carta de Luis Antonio de Sousa ao conde de Oeiras relata suas atividades numa fábrica de forja em Sorocaba, em que solicita um mestre ferreiro. Luis Antonio mandou trazer preso do Rio de Janeiro, o mestre Joao de Oliveira de Figueiredo, que estava se preparando para voltar para Angola e que na carta é referido como um negro “de rude inteligência”, porém hábil metalurgista. Na carta Luis Antonio solicitava também a vinda “de outros mestres de Biscaia para estas fábricas”[3]. Richard Burton relata as técnicas primitivas usadas no século XIX em Morro Velho: “o mineiro brasileiro sempre descuidou do estacamento e das paredes. Ignorava as bombas por completo e, assim, quando a mina se inundava, era compelido a abandoná-la. Rude, porém, como fosse o seu sistema, veremos que foi adotado por todos os mineiros ingleses dos dias presentes e que os últimos se contentaram com poucos e insuficientes melhoramentos”.[4] Roy Nasch aponta que aos negros africanos devemos a fundição do ferro: “os norte americanos de Pittsburg deveriam ir em romarias ao coração da África como os maometanos vão a Meca” em reconhecimento por esta invenção.[5]  Segundo Calógeras: “o processo africano de colaboração direta do ferro, o método dos cadinhos, disseminou-se pelo distrito aurífero”.[6] Alberto Costa e Silva explica que a fundição de ferro já era conhecida na África  desde 600 a.c. tendo sido uma técnica de pré aquecimento dos fornos que proporcionava um ferro de melhor qualidade que o europeu.[7]



[1] RUSSELL WOOD, A. Histórias do Atlântico português, São Paulo: UNESP, 2021, p. 296

[2] GOMES, Laurentino. Escravidão v. II, Rio de Janeiro:GloboLivros, 2021, p. 60

[3] LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 129

[4] FIORE, Elizabeth. Presença britânica no Brasil (1808-1914). São Paulo:Pau Brasil, 1987, p. 112

[5] NASH, Roy. A conquista do Brasil. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1939, p. 59

[6] SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.290

[7] SILVA, Alberto da Costa. A África explicada aos meus filhos, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013, p. 28



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