domingo, 17 de outubro de 2021

As Irmandades de Nossa Senhora do Rosário

 

Mestre Valentim (1744-1813) filho de um fidalgo português e uma escrava era um artesão mulato e artesão da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário também conhecida como Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.[1] Em Lisboa também havia uma Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos fundada em 1460, embora frequentada por negros livres, sua direção ficaria a cargo de brancos e de uma autoridade eclesiástica.[2] No desfile de Corpus Christi de 1719 em Lisboa de um total de 143 irmandades, apenas três eram de irmandades de pretos: a de Nossa Senhora do Rosário, a de São Benedito e a de Jesus, Maria e José. Na Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Mariana entre 1748 e 1819 de um total de 984 pessoas com funções na mesa diretora um total de 303 eram escravas, algo em torno de 30%. Dos 273 membros com origem conhecida, 88% era africanos.[3] A Irmandade do Rosário não tinha caráter litúrgico. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário teve grande popularidade entre os africanos. Na cidade de Mariana, então chamada vila de Nossa Senhora do Carmo, a fundação da irmandade data entre 1704 e 1715. Segundo Fernanda Pinheiro, que destaca o papel da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário na construção de uma identidade cultural entre escravos minas: “pesquisas recentes acerca do papel desempenhado pelas irmandades tem reforçado seu impacto nas múltiplas experiências dos escravizados e egressos do cativeiro. Sem desconsiderar que tais associações organizadas em torno de um santo patrono constituíam, na perspectiva do Estado e dos senhores um instrumento de dominação, os historiadores tem se interessado pela abordagem das confrarias enquanto vetores dos processos de diferenciação ou de coesão das comunidades negras [..] Hoje pode-se afirmar que tais estudos contribuíram, e muito, com a superação da noção dualista que contrapunha acomodação versus resistência”.[4]

[1] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.I, São Paulo: Globo, 2019. p.349

[2] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.II, São Paulo: Globo, 2021. p.202

[3] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.II, São Paulo: Globo, 2021. p.201

[4] RODRIGUES, Aldair; LIMA, Ivana, Stolze; FARIAS, Juliana. A diáspora Mina, Rio de Janeiro: NAU, 2020, p. 363; BORGES, Célia Maia.Escravos e libertos nas Irmandades do Rosário: devoção e solidariedade em Minas Gerais, séculos XVIII e XIX, Juiz de Fora, UFJF, 2005; OLIVEIRA, Anderson José Machado de. Devoção negra: santos pretos e catequese no Brasil colonial, Rio de Janeiro: Quartet, Faperj, 2008; REGINALDO, Lucilene. Os rosários dos Angolas: irmandades de africanos e crioulos na Bahia setecentista, São Paulo: Alameda, 2011; SOARES, Mariza de Carvalho. Devotos da cor: identidade étnica, religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro, século XVIII, Rio de Janeiro: Civilização Brasiliera, 2000



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