Os
portugueses ao chegarem na África espantaram-se com o tamanho de algumas
cidades yorubas como Ijebu Odé na Nigéria e sua muralha defensiva de 130
quilômetros conhecida como Eredo Sungbo, podendo alcançar a altura de set
metros em alguns trechos. A muralha segundo lenda teria sido construído em
homenagem a Bilikisu Sungbo que alguns identificam com a personagem bíblica
rainha de Sabá do tempo de Salomão. Os Lusíadas de Camões e o livro Décadas
do cronista João de Barros descrevem o grande comércio dos portos africanos
no século XV quando da chegada dos portugueses.[1] No Congo,
o rei ou manicongo Nzinga a Nkuwa (João I do Congo na figura) reconhecendo a superioridade
técnica dos portugueses com a chegada de Diogo Cão em 1491 conclui que o deus dos
portugueses era superior e logo se converteu ao cristianismo solicitando a
vinda de padres para catequização de seu povo.[2] O diário
de bordo de Vasco da Gama em 1498 registra que os navios árabes que
frequentavam a costa oriental da África, aproveitando-se das monções, não
usavam pregos, todo seu madeirame era fixado por cordas feitas de fibra de
casca de coco. Havia um temor lendário de que no canal de Moçambique que se
forma entre o litoral africano a costa de Madagascar (ilha da Lua) haveria uma
gigantesca pedra íma em seu fundo que poderia despergar todos os pregos de uma
embarcação, pela mesma razão que os navios não carregariam qualquer canhão. Eduardo
Bueno, contudo, levanta a hipótese de que esta lenda esconderia a razão
principal que seria a escassez de ferro na Arábia. Por ter vencido todas as
lendas que cercavam a travessia deste canal, o navegador árabe Ibn Majid
renomeou o nome do canal, antes conhecido como “canal do medo” passando
a se chamar “passagem dos francos” em homenagem aos europeus
portugueses. Os portugueses foram bem recebidos pelo sultão de Moçambique que
imaginava tratarem-se de muçulmanos vindos da Turquia. Segundo o diário de
Vasco da Gama “depois que souberam que éramos cristãos ordenaram que nos
capturassem e matassem à traição”.[3] Para a
viagem de Melilnde na costa oriental africana até Calicute na Índia os portugueses
contariam com a presença do cartógrafo árabe Ahmed ibn Madjid, segundo o relato
de João de Barros e que no diário de Álvaro Velho da frota de Vasco da Gama é
identificado como sendo um mouro[4], grande
conhecedor da cartografia da região e autor de Diretório Náutico publicado em
1490, um compêndio da ciência náutica árabe. Jaime Cortesão destaca como
crucial esse conhecimento para o sucesso do empreendimento português e que
paradoxalmente levaria a derrocada da navegação árabe no oceano Índico.
[1] SILVA, Alberto da Costa. A África explicada aos meus filhos, Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2013, p. 40
[2] SILVA, Alberto da Costa. A África explicada aos meus filhos, Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2013, p. 46
[3] VELHO, Álvaro. O descobrimento das Índias: o diário da Viagem de Vasco da Gama,
Rio de Janeiro: Objetiva, 1998, p. 58, 146
Nenhum comentário:
Postar um comentário