quarta-feira, 27 de outubro de 2021

O abolicionismo de Andre Rebouças

 

Ao discursar na Escola Politécnica no dia da assinatura da lei Áurea André Rebouças: “Foi a Escola Politécnica quem doutrinou a abolição. O futuro pertence aos filhos desta Escola. A Escravidão durou três séculos. A triangulação do Brasil vai durar também três séculos, a divisão de terra, as estradas, os canais, os caminhos de ferro, os rios navegáveis, os portos do mar serão feitos por vós. Aos engenheiros todo o trabalho da constituição da democracia rural brasileira. Viva a Escola Politécnica”.[1] Angela Alonso mostra que André Rebouças se envolveu mais diretamente com o movimento abolicionista após sua visita aos Estados Unidos em 1873, onde foi discriminado racialmente ao não ser recebido nos círculos aristocráticos tal como estava costumado a frequentar no Brasil. Thomas Skidmore, contudo, lembra que o pai de Rebouças, o advogado Antonio Pereira Rebouças em 1824 havia sido acusado por proprietários de escravos de organizar uma revolta de escravos e “um massacre geral de todos os brancos”, mas acabou inocentado em audiência pública.[2] No Brasil um episódio tem sido apontado de forma equivocada como prova deste racismo contra Andrè Rebouças no Brasil. Convidado a um sarau dançante no palácio imperial em 1868, o engenheiro negro André Rebouças teria sido recusado por várias senhoras para uma dança ao que o Conde D’Eu atravessou o salão para buscá-lo para fazer par com a princesa Isabel e assim poder dançar diante de todos em um desafio a uma sociedade escravocrata e preconceituosa.[3] O episódio contudo foi resultado de uma chantagem de um jornal sensacionalista da época que inventou toda a história.[4] Segundo Angela Alonso, André Rebouças foi um articulador central do movimento abolicionista: “Aristocrata e filho de político, circulava pelas boas famílias e nas instituições políticas; empresário, confabulava com homens de negócio; alcançava os estudantes, por ser professor; amante da ópera, falava à gente do teatro; e, negro, tinha legitimidade nas franjas da mobilização. Operou a faina miúda por mais tempo do que qualquer outro ativista, do começo ao fim da campanha. Homem-ponte, entrelaçou as diversas arenas da mobilização. Homem de bastidor, apareceu pouco e fez muito, Nabuco o reconheceu: “Rebouças encarnou, como nenhum outro de nós, o espírito antiescravagista […], o papel primário, ainda que oculto, do motor, da inspiração que se repartia com todos… não se o via quase, de fora, mas cada um dos que eram vistos estava olhando para ele”.[5]



[1] O País, Rio de Janeiro, 16/05/1888. BARBOSA, Francisco de Assis. Dom João VI e a siderurgia no Brasil, Brasília:Batel, 2010, p.52

[2] SKIDMORE, Thomas. Uma história do Brasil, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998, p. 82

[3] LACOMBE, Lourenço Luiz. Isabel a princesa redentpra, Petrópolis: Instituo Histórico de Petrópolis, 1989, p.166. QUEIROZ, Dinah Silveira de. A Princesa dos Escravos. Rio de Janeiro: Record, 1966. André Rebouças rejeitado na dança? https://www.youtube.com/watch?v=BKhAifw32V4

[4] André Rebouças rejeitado na dança? https://www.youtube.com/watch?v=BKhAifw32V4

[5] ALONSO, Alonso. Flores, votos e balas, Companhia das Letras: São Paulo, 2019, p.299



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