Ao combater o poder religioso dos jesuítas e do Santo
Ofício, a tirania absolutista de marquês de Pombal se constitui um “instrumento
de liberdade” nas palavras de Oliveira Martins.[1] Gabriel
Malagrida foi entregue ao tribunal do Santo Ofício de Lisboa acusado de heresia
e posteriormente condenado ao garrote e fogueira em 1761, no Rossio, a praça principal
de Lisboa. Para José Eduardo Franco, a morte de Malagrida resultado da
perseguição aos jesuítas imposta por Pombal representou foi um ato o qual “simbolizando
a fogueira que o queimou a destruição de toda a Companhia de Jesus” [2]. Em
1777, após a queda de Pombal o padre Pedro Homem denunciou que o livro sobre
Santa Anna onde supostamente o padre Malagrida teria feito profecias contra a
Igreja identificando-a como o anti Cristo, que fundamentou o processo de heresia,
na verdade foi uma construção arquietada por Pombal: “Quanto
á obra sobre o Anti-christo—acrescentou o padre Homem, não foi auctor d'ella
Malagrida ; mas sim o infame padre Platel, o ex-capuchinho Norbert,
estipendiado por Pombal para calumniar os seus adversários. Este miserável
recebia pelo seu infame mister uma pensão de 1:300$000 rs.” [3]. Entre a sentença dos Távoras incriminando
judicialmente os jesuítas e 1773 quando a Companhia foi extinta pro Roma, houve
uma campanha antijesuítica capitaneada pelo marquês de Pombal. Numa das imagens
da época Pombal aparece como o herói iluminado a vencer o monstro da Ordem dos
Jesuítas, representado por uma Hidra de Lerna que Hércules exterminou em um de
seus doze trabalhos, demonstrando o pioneirismo português no extermínio do mal
jesuítico. Muituos dos livros antijesuítas eram impressos em Roma com falsas
indicações de terem sido impressos em Paris, Lisboa, Genova, Veneza, Nápoles
para inflar a rede de oposição aos jesuítas. Miguel Sotto Mayor sugere que esta
campanha envolveu a negociação da ilha de Santa Catarina aos espanhóis ocupada
por tropas do general Ceballos entre 1762 e 1777. Pombal teria proposto a
invasão dos Estados Pontíficios para forçar o papa a decretasse o fim da ordem
dos jesuítas.[4] Pedro Ceballos foi governador da Província de Buenos Aires de 1757 a 1766, e
com a criação do Vice-Reinado do Rio da Prata, em 1776, foi nomeado seu
primeiro vice-rei. Na França a ordem dos jesuítas seria extinta em 1764, na Espanha, Nápoles e
Sicília em 1768.[5] O papa Clemente XIV tendo cedido as pressões e "em
nome da paz da Igreja e para evitar uma secessão na Europa" suprimiu a
Sociedade de Jesus pelo breve Dominus ac Redentor de 21 de julho de
1773, ano em foi decretada a abolição da escravatura em Portugal. Para José
Franco o ato representou uma vitória do pensamento iluminista contra a Igreja
redefinindo as relações entre Igreja e Estado no caminho da secularização da
sociedade. Wilson Martins observa que o fato de uma das principais aplicações
da triaga brasílica fabricada pelos jesuítas era como antídoto a
envenenamentos, alimentava no imaginário popular as suspeitas contra os
jesuítas de terem envenenado o papa Clemente XIV, poucos meses depois, em 1774.
O marquês de Pombal ao saber da morte do papa acusa os jesuítas “que
o teriam envenenado com a sua mítica e indetectável acqua toffana para vingar
esta medida papel [a extinção da Ordem dos jesuítas]”. [6]
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