quinta-feira, 28 de outubro de 2021

A expulsão dos jesuítas e a campanha antijesuítica de Pombal

 

Ao combater o poder religioso dos jesuítas e do Santo Ofício, a tirania absolutista de marquês de Pombal se constitui um “instrumento de liberdade” nas palavras de Oliveira Martins.[1] Gabriel Malagrida foi entregue ao tribunal do Santo Ofício de Lisboa acusado de heresia e posteriormente condenado ao garrote e fogueira em 1761, no Rossio, a praça principal de Lisboa. Para José Eduardo Franco, a morte de Malagrida resultado da perseguição aos jesuítas imposta por Pombal representou foi um ato o qual “simbolizando a fogueira que o queimou a destruição de toda a Companhia de Jesus” [2]. Em 1777, após a queda de Pombal o padre Pedro Homem denunciou que o livro sobre Santa Anna onde supostamente o padre Malagrida teria feito profecias contra a Igreja identificando-a como o anti Cristo, que fundamentou o processo de heresia, na verdade foi uma construção arquietada por Pombal: “Quanto á obra sobre o Anti-christo—acrescentou o padre Homem, não foi auctor d'ella Malagrida ; mas sim o infame padre Platel, o ex-capuchinho Norbert, estipendiado por Pombal para calumniar os seus adversários. Este miserável recebia pelo seu infame mister uma pensão de 1:300$000 rs.” [3].  Entre a sentença dos Távoras incriminando judicialmente os jesuítas e 1773 quando a Companhia foi extinta pro Roma, houve uma campanha antijesuítica capitaneada pelo marquês de Pombal. Numa das imagens da época Pombal aparece como o herói iluminado a vencer o monstro da Ordem dos Jesuítas, representado por uma Hidra de Lerna que Hércules exterminou em um de seus doze trabalhos, demonstrando o pioneirismo português no extermínio do mal jesuítico. Muituos dos livros antijesuítas eram impressos em Roma com falsas indicações de terem sido impressos em Paris, Lisboa, Genova, Veneza, Nápoles para inflar a rede de oposição aos jesuítas. Miguel Sotto Mayor sugere que esta campanha envolveu a negociação da ilha de Santa Catarina aos espanhóis ocupada por tropas do general Ceballos entre 1762 e 1777. Pombal teria proposto a invasão dos Estados Pontíficios para forçar o papa a decretasse o fim da ordem dos jesuítas.[4] Pedro Ceballos foi governador da Província de Buenos Aires de 1757 a 1766, e com a criação do Vice-Reinado do Rio da Prata, em 1776, foi nomeado seu primeiro vice-rei. Na França a ordem dos jesuítas  seria extinta em 1764, na Espanha, Nápoles e Sicília em 1768.[5] O papa Clemente XIV tendo cedido as pressões e "em nome da paz da Igreja e para evitar uma secessão na Europa" suprimiu a Sociedade de Jesus pelo breve Dominus ac Redentor de 21 de julho de 1773, ano em foi decretada a abolição da escravatura em Portugal. Para José Franco o ato representou uma vitória do pensamento iluminista contra a Igreja redefinindo as relações entre Igreja e Estado no caminho da secularização da sociedade. Wilson Martins observa que o fato de uma das principais aplicações da triaga brasílica fabricada pelos jesuítas era como antídoto a envenenamentos, alimentava no imaginário popular as suspeitas contra os jesuítas de terem envenenado o papa Clemente XIV, poucos meses depois, em 1774. O marquês de Pombal ao saber da morte do papa acusa os jesuítas “que o teriam envenenado com a sua mítica e indetectável acqua toffana para vingar esta medida papel [a extinção da Ordem dos jesuítas]”. [6]

[1]MARTINS, Oliveira. História de Portugal, Lisboa:Versial, 2010, p. 375, Edições Kindle

[2] FRANCO, José Eduardo. O triunfo internacional do antijesuitismo pombalino. In: BRASIL, Jesuítas. Bicentenário da restauração da Companhia de Jesus (1814-2014), São Paulo: Loyola, 2014, p.99

[3] MURY, Paulo. Historia de Gabriel Malagrida. Lisboa, 1825 p.174

[4] FRANCO, José Eduardo. O triunfo internacional do antijesuitismo pombalino. In: BRASIL, Jesuítas. Bicentenário da restauração da Companhia de Jesus (1814-2014), São Paulo: Loyola, 2014, p.121; Flores, Maria Bernadete Ramos. Os espanhóis conquistam a Ilha de Santa Catarina: 1777. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2004

[5] PAICE, Edward. A ira de Deus, São Paulo:Record, 2010, p.238

[6] FRANCO, José Eduardo. O triunfo internacional do antijesuitismo pombalino. In: BRASIL, Jesuítas. Bicentenário da restauração da Companhia de Jesus (1814-2014), São Paulo: Loyola, 2014, p.128




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