Segundo o padre Leonel Franca sobre o ensino dos jesuítas o ideal pedagógico era formar alunos para o pleno domínio das artes liberais (humanidades) por meio da língua latina: “O alvo a que mira a formação do Ratio Studiorum – nisto em concordância incontestada com o ideal do século XVI – é a eloquência latina: ad perfectam informat eloquentiam. Levar o aluno a exprimir-se de maneira irrepreensível na linguagem de Cícero é o termo a que se subordinam todas as séries sabiamente graduadas do currículo. A gramática visa à expressão clara e correta; as humanidades, a expressão bela e elegante; a retórica, a expressão enérgica e convincente”.[1] O português Antonio Saraiva, contudo, aponta que a pedagogia português o ensino de retórica é considerado tardio quando comparado a outras universidades europeias. No período pré universitário por exemplo tal como descrita pro Manuel da Esperança do mosteiro de Alcobaça não menciona qualquer obra de retórica, ou qualquer obra de Cícero, Vergílio, Ovídio, Lucano e outros. Mesmo na Universidade de Lisboa não existiu durante a idade Média uma cadeira de retórica, predominando os estudos de gramática.[2] A organização dos estudos ministrados pelos professores dos colégios jesuítas era regulado pelo documento promulgado pelo Superior Geral Cláudio Acquaviva em 1599 Ratio et Institutio Studiorum Societatis Jesu, Método e programa de estudos da Companhia de Jesus, de caráter humanista e que tinha paralelos em diversas outras propostas pedagógicas como as da Ratio Studii de Erasmo, o De tradendids disciplinis de Luis Vives ou os trabalhos de ensino humanístico de Melanchton, adepto de Lutero.[3] Charmot observa que nos colégios jesuítas, segundo a Ratio studiorum, se fala em “cultura integral” não no sentido de ensino as matéria e de toda a ciência mas em um ensino literário e científico que não fosse puramente profano: “o ensino das ciências profanas era orientado pelo princípio de que o religioso as ministra não por elas mesmas, mas somente em vista de promover a maior glória de Deus”.[4] Segundo Amarílio Ferreira: “o complexo jesuítico difundia a cultura latina cristã, sua principal função, mas ao mesmo tempo ensinava ofícios e produzia mercadorias, imbricando trabalho intelectual com trabalho manual. A existência dessa relação permite considerar os colégios como unidades que estavam estruturadas nas regras do Ratio studiorum e também nas oficinas anexas de instrução de artes mecânicas”.[5]
[1] FERREIRA, Amarílio;
BITTAR, Marisa. Artes liberais e ofícios mecânicos nos colégios jesuíticos do
Brasil colonial. Revista Brasileira de Educação v. 17 n. 51 set.-dez. 2012,
p.693-751 http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v17n51/12.pdf
[2] JANOTTI, Aldo. Origens
da Universidade, São Paulo: Edusp,1992, p.200
[3] DOWELL, João Augusto. O bicentenário da restauração da Companhia de Jesus
(1814-2014). In: BRASIL, Jesuítas. Bicentenário da restauração da Companhia de
Jesus (1814-2014), São Paulo: Loyola, 2014, p.17
[4] MARTINS, Wilson.
História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 356
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