terça-feira, 26 de outubro de 2021

Irmandades como forma de resistência negra

 

Para João José Reis os negros na Bahia mantinham suas raízes africanas onde a escravidão era uma instituição presente.[1] Para José Reis na revolta dos malês a influência de movimentos revolucionários igualitários como os observados no Hait era reduzida: “nenhuma utopia igualitária. Isso, sem dúvida decepciona quem espera encontrar heróis altruístas na história das rebeliões. Os malês eram homens de carne e osso, limitados pelas perspectivas de seu tempo e lugar. Afinal, qual escravo nunca desejou de ser senhor ?”.[2]   Maria Helena Toledo Machado destaca as formas de resistência dos escravos à escravidão não se limitava ao enfrentamento direto. Para Laurentino Gomes: “sob essa nova interpretação, os escravos aparecem como agentes de seu próprio destino, negociando espaços dentro da sociedade escravista, organizando irmandades religiosas, formando um sistema complexo de apadrinhamento, parentesco e alianças muitas vezes incluíam participar de milícias ou bandos armados para defender os interesses do senhor contra os de um vizinho ou fazendeiro rival”.[3] Segundo Russell Wood: “as irmandades davam aos negros, escravos e livres, uma base para a criação de uma rede organizacional de domínio e subordinação dentro da comunidade negra. Os líderes de fato e os potenciais poderiam ser reconhecidos pelos negros, mas em termos que, devido ao contexto religioso, eram aceitáveis para os colonos brancos[4]. Para Katia Mattoso ao se referir aos historiadores que privilegiam as revoltas escravas que se tornaram frequentes a partir de 1880: “esses historiadores, que valorizavam o lado violento das relações sociais, empobreceram com frequência a compreensão da sociedade. Prender-se unicamente às tensões sociais, mesmo quando elas são reais e fundamentais para a compreensão do processo histórico, é um ponto de vista redutor”. Da mesma forma Katia Mattoso critica as abordagens marxistas como as de Jacob Gorender em Escravismo colonial, livro considerado um clássico pela comunidade acadêmica, que reduzem as relações sociais a simples relações de produção econômica numa dicotomia entre senhores e escravos, dominantes e dominados.[5]



[1] REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835, São Paulo: Cia das Letras, 2012, p. 32, 310

[2] REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835, São Paulo: Cia das Letras, 2012, p. 268

[3] GOMES, Laurentino. Escravidão v. II, Rio de Janeiro:GloboLivros, 2021, p. 23

[4] RUSSELL WOOD, Escravos e libertos no Brasil colônia, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, p.269

[5] MATTOSO, Katia M. Queirós. Ser escravo no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Vozes. Edição do Kindle, 2016, p.19




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