Para João José Reis os negros na Bahia mantinham suas
raízes africanas onde a escravidão era uma instituição presente.[1] Para
José Reis na revolta dos malês a influência de movimentos revolucionários
igualitários como os observados no Hait era reduzida: “nenhuma utopia
igualitária. Isso, sem dúvida decepciona quem espera encontrar heróis
altruístas na história das rebeliões. Os malês eram homens de carne e osso,
limitados pelas perspectivas de seu tempo e lugar. Afinal, qual escravo nunca
desejou de ser senhor ?”.[2]
Maria Helena Toledo Machado destaca as formas
de resistência dos escravos à escravidão não se limitava ao enfrentamento
direto. Para Laurentino Gomes: “sob essa nova interpretação, os escravos
aparecem como agentes de seu próprio destino, negociando espaços dentro da
sociedade escravista, organizando irmandades religiosas, formando um sistema
complexo de apadrinhamento, parentesco e alianças muitas vezes incluíam
participar de milícias ou bandos armados para defender os interesses do senhor
contra os de um vizinho ou fazendeiro rival”.[3]
Segundo Russell Wood: “as irmandades davam aos negros, escravos e
livres, uma base para a criação de uma rede organizacional de domínio e
subordinação dentro da comunidade negra. Os líderes de fato e os potenciais
poderiam ser reconhecidos pelos negros, mas em termos que, devido ao contexto
religioso, eram aceitáveis para os colonos brancos”[4]. Para
Katia Mattoso ao se referir aos historiadores que privilegiam as revoltas
escravas que se tornaram frequentes a partir de 1880: “esses historiadores,
que valorizavam o lado violento das relações sociais, empobreceram com
frequência a compreensão da sociedade. Prender-se unicamente às tensões
sociais, mesmo quando elas são reais e fundamentais para a compreensão do
processo histórico, é um ponto de vista redutor”. Da mesma forma Katia
Mattoso critica as abordagens marxistas como as de Jacob Gorender em Escravismo
colonial, livro considerado um clássico pela comunidade acadêmica, que
reduzem as relações sociais a simples relações de produção econômica numa dicotomia
entre senhores e escravos, dominantes e dominados.[5]
[1] REIS, João José.
Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835, São Paulo:
Cia das Letras, 2012, p. 32, 310
[2] REIS, João José.
Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835, São Paulo:
Cia das Letras, 2012, p. 268
[3] GOMES, Laurentino.
Escravidão v. II, Rio de Janeiro:GloboLivros, 2021, p. 23
[4] RUSSELL WOOD, Escravos e libertos no Brasil colônia, Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2005, p.269
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