Segundo Alfred Metraux: “Em cada aldeia havia
alguns feiticeiros titulados, que faziam o ofício de curandeiros e presidiam às
danças e às cerimônias religiosas comuns. Eram chamados de pagís ou pagés e
podiam ser considerados os sacerdotes da tribo. Uns tantos dentre eles,
todavia, adquiriram certa reputação, que os colocava acima da confraria e lhes
dava uma situação superior, recebendo o nome de pagé-ouässou, ou de Caraïbe,
palavra que os antigos autores traduziam por "santidade ou homem
sagrado".[1] Entre
a flora medicinal indígena do século XVI os pajés usavam óleo de copaíba para
cicatrização.[2] A planta era considerada adstringente e útil contra feridas, impinges,
queimaduras, dor de dente e picada de cobra. A primeira citação sobre o óleo de
copaíba (figura) talvez tenha sido feita numa carta de Petrus Martius ao Papa Leão X publicada
em 1534, em Estrasburgo, em que faz referência ao "Copei" como uma
droga indígena. Diversos cronistas do século XVI referem-se às virtudes do óleo
de copaíba. Gabriel Soares de Sousa (1540-1592) em sua obra "Tratado
Descritivo do Brasil" de 1587 a utilização do óleo pelos índios e as ”ervas
da virtude" e para combate de afecções das vias urinárias[3]. O padre
Jesuíta José Acosta (1539-1604) no seu livro "De Natura Novi Orbis",
traduzido em 1606 do latim para o francês, e depois por José Maffeu para o
português, que o intitulou "História Natural e Moral das Índias",
assim se referiu ao óleo de copaíba: “O
bálsamo é celebrado com razão por seu excelente odor, e muito maior efeito para
curar feridas, e outros diversos remédios para enfermidades, que nele se
experimentam...nos tempos antigos os índios apreciavam em muito o bálsamo, com
ele os índios curavam suas feridas e que delas aprenderão os espanhóis”. Pero
Magalhães Gandavo, em seu livro "História da Província de Santa
Cruz", de 1576: “Um certo gênero de
árvores há também pelo mato dentro da capitania de Pernambuco a que chamam
copaíbas, de que se tira bálsamo mui salutífero e proveitoso ao extremo, para
enfermidades de muitas maneiras, principalmente as que procedem a frialdade:
causa grandes efeitos, e tira todas as dores por graves que sejam em muito
breve espaço. Para feridas ou quaisquer outras chagas, tem a mesma virtude, as
quais tanto que com ele lhe acodem, saram mui depressa, e tira os sinais de
maneira, que de maravilha se enxergam onde estiveram e nisto se faz vantagem a
todas as outras medicinas”.[4] Não apenas
os cronistas portugueses que descreveram as propriedades medicinais do óleo de
copaíba. Jean de Lery, sobrinho de Villegagnon, a descreveu na "Histoire
d'un Voyage fait en la Terre du Brésil". Gaspar Barléu, em seu livro
"História dos feitos recentemente praticados durante vinte anos no
Brasil", dedicado ao Conde Maurício de Nassau, assim se referiu à copaíba,
que considerava uma das árvores próprias da terra mais notáveis: “Vêem-se estas plantas esfoladas pelo atrito
dos animais, que, ofendidos pelas cobras, procuram instintivamente este remédio
da natureza”.[5]
[1] BOTELHO, João
Bosco and COSTA, Hideraldo Lima da. Pajé: reconstrução
e sobrevivência. Hist. cienc. saude-Manguinhos. 2006,
vol.13, n.4, pp.927-956 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702006000400009
[2] VARNHAGEN, Francisco
Adolfo. História geral do Brasil, São Paulo:Melhoramentos, 1948, v. I, p. 55
[3] RIBEIRO, Berta. O índio na cultura brasileira, Rio de Janeiro: Unibrade,
Unesco, 1987, p. 63
[4] PRIORE, Maria del.
Histórias da gente brasileira, Vol.1 Colônia, Rio de Janeiro:Leya, 2016, p. 58
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