Charles Boxer observa que desde o século XVI os portugueses que emigravam para o Brasil “não tinham a mínima intenção de fazer qualquer trabalho manual, naquilo que se lhes afigurava uma nova terra prometida, se pudessem de qualquer modo evitá-lo”[1], o que diante da resistência indígena invariavelmente acabaria conduzindo a escravidão dos negros africanos. O governador do Rio de Janeiro, Luís Vahia Monteiro, em carta de 1725 ao rei português d. João V se refere a que “as minas não se pode cultivar senão com negros, porque fazem o serviço vigoroso e porque os brancos, os reinóis, em pondo os pés no Brasil, nenhum quer trabalhar”. Em outra carta de 1729 declara “São os escravos a propriedade mais sólida do Brasil e mede-se a riqueza de um homem pela quantidade maior ou menor de escravos que possui, pois muitas são as terras, mas só se pode cuidar delas quem tem escravos”[2]. Um candidato a advogado no Portugal do século XVIII observa que seu avô era fundidor de canhões, mas justifica que “não se trata de profissão tão vil quanto sapateiro, carpinteiro e outras como essas”.[3] Segundo Jorge Caldeira: “qualquer trabalho manual, por mais bem pago que fosse, era considerado tarefa degradante para os cidadãos livres”. [4] Júnia Furtado destaca que na sociedade escravista mineira do século XVIII havia um profundo desprezo pelo trabalho manual, de modo que a posse de escravos para execução de tais tarefa era símbolo de status. Os vereadores de Marina observam que “ninguém consente que algum de seus filhos se aplique a ofícios grosseiros, mas que somente saltem a uma afetada e vã nobreza, a qual consiste ou nas temerárias introduções para a Igreja ou nos indignos acessos aos postos militares”.[5]
[1] BOXER, Charles. O
império colonial português (1415-1825). Lisboa:Edições 70, 1960, p. 101
[2] GOMES, Laurentino.
Escravidão v. II, Rio de Janeiro:GloboLivros, 2021, p. 47
[3] BOXER, Charles. O
império colonial português, Lisboa: Edições 70, 1969, p. 303
[4] CALDEIRA, Jorge. Mauá: empresário do
Império, São Paulo: Cia das Letras, 1995, p. 182
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