segunda-feira, 11 de outubro de 2021

As alegres freirinhas do Mosteiro do Desterro de Salvador

 

As 81 clarissas no Mosteiro do Desterro na cidade de Salvador tinham 290 escravos e 8 escravas.[1] A depravação de costumes das freiras do Mosteiro do Desterro para sua época é destacada por Heitor Moniz em depoimento do arcebispo D. Frei Manuel de Santa Inês: “por baixo do seus hábitos as freiras vestiam camisas bordadas, saias bordadas, meias de seda ligadas por fivelas de ouro cravejadas de diamantes”.[2] A instituição baiana que recebia as filhas de famílias ricas ficou popular por ser “um convento animado por sons noturnos de ruidoso baile, onde galantes jovens fazem corte a religiosas ricamente vestidas”. O irreverente Gregório de Matos as chamava “as alegres freirinhas” de “putinhas franciscanas”, acrescentando: “Por que com frades dormis aos pares/ e tendes ódio dos seculares?”.[3] O rei D. Pedro II enviou, em 1690, uma ordem régia que previa o cuidado com as religiosas “desse Convento” para que se evitassem “as amizades ilícitas e escandalosas” de todas as formas que fossem possíveis, por aqui, para que “as Religiosas vivam sem inquietação alguma espiritual causada por pessoas seculares ou eclesiásticas”.[4] Na conclusão de Ronaldo Vainfas (figura): “A mesma Igreja que controlava e punia não era capaz de guardar seus próprios templos, oferecendo-os como o espaço talvez mais nitidamente privado para as intimidades na sociedade colonial. E assim, tratando dos “lugares do prazer” na Colônia, deparamo-nos com paradoxos consideráveis. A Igreja, expressão da sacralidade oficial, abrigava toda a sorte de enlaces sexuais e casos de paixão, dos namoros e flertes na missa dominical às seduções ad turpia nos confessionários; dos enlaces eróticos em capelas de engenho aos deleites no claustro dos conventos ou na vida pretensamente austera dos recolhimentos”.[5]



[1] MATOS, Henrique. Caminhando pela história da Igreja, Belo Horizonte: O lutador, 1995, p. 132

[2] MACEDO, Sérgio. Crônica do negro no Brasil, São Paulo: Record, 1974, p.74

[3] NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil - Vol. 1 (pp. 195-196). Companhia das Letras. Edição do Kindle.

[4] JAVORSKI, Maureen Elina. Uma queixa de galanteio: relações freiráticas em Gregório de Matos e Guerra. Monografia de Especialização, UTFPR, Curitiba, 2014 http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/3319/1/CT_LBHN_IX_2013_19.pdf

[5] NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil - Vol. 1 (p. 196). Companhia das Letras. Edição do Kindle



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