sábado, 9 de outubro de 2021

Clientelismo e desenvolvimento do mercado interno no Brasil colônia

 

Para Maria Odila (figura) o desenvolvimento do comércio interno na colônia fazia parte de uma estratégia clientelista de “interiorização da metrópole” através de concessões de privilégios e troca de favores de modo a estender seu poder ao sertão mais distante, reproduzindo hierarquias estabelecendo relações de dependência dos comerciantes da colônia em relação à metrópole. Para Júnia Furtado: “a metrópole aproveitou-se dessa dependência do setor mercantil para estender seu poder, mediante mecanismos formais, como a taxação dos produtos; ou informais, pela transmissão das cadeias de clientelismo e hierarquia”.[1] Segundo Junia Furtado: “essa economia de favor relacionava dois pólos desiguais e servia para reproduzir os indivíduos em hierarquias e aí confina-los”. Esta perspectiva se aproxima do conceito de formação “patronato político brasileiro” desenvolvido por Raimundo Faoro em Os donos do poder, a formação de uma classe estamental que fundamentaria o caráter patrimonialista da sociedade colonial: "deitou-se remendo de pano novo em vestido velho, vinho novo em odres velhos, sem que o vestido se rompesse, nem o odre rebentasse".[2]  Junia Ferreira Furtado considera que “a visão dicotômica e inconciliável entre a colônia e a metrópole, presente em praticamente toda a historiografia, impossibilitou o real entendimento das relações entre os homens da época, pois, ao contrário do que afirmavam, a base da dominação era a aceitação generalizada do poder real”.[3] Há, portanto, uma crítica ao conceito de “antigo sistema colonial” de Fernando Novais e Caio Prado Júnior que subordinava toda a dinâmica interna da colônia às diretrizes externas da metrópole definindo de forma inexorável sua inserção no sistema comercial capitalista, de modo que, toda a riqueza seria drenada para a burguesia mercantil metropolitana, através de um controle rígido e despótico da Coroa portuguesa, de modo que a classe dominante colonial não usufruiria das riquezas locais.

[1] FURTADO, Júnia Ferreira. Homens de negócio, São Paulo: Hucitec, 2006, p. 85

[2] FAORO, Raimundo. Os donos do poder. A formação do patronato brasileiro. Porto Alegre: Globo, 1979

[3] FURTADO, Júnia Ferreira. Homens de negócio, São Paulo: Hucitec, 2006, p. 15



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