Para Maria Odila (figura) o
desenvolvimento do comércio interno na colônia fazia parte de uma estratégia clientelista
de “interiorização da metrópole” através de concessões de privilégios e
troca de favores de modo a estender seu poder ao sertão mais distante,
reproduzindo hierarquias estabelecendo relações de dependência dos comerciantes
da colônia em relação à metrópole. Para Júnia Furtado: “a metrópole aproveitou-se
dessa dependência do setor mercantil para estender seu poder, mediante
mecanismos formais, como a taxação dos produtos; ou informais, pela transmissão
das cadeias de clientelismo e hierarquia”.[1] Segundo Junia Furtado: “essa economia de favor relacionava dois pólos
desiguais e servia para reproduzir os indivíduos em hierarquias e aí
confina-los”. Esta perspectiva se aproxima do conceito de formação “patronato
político brasileiro” desenvolvido por Raimundo Faoro em Os donos do
poder, a formação de uma classe estamental que fundamentaria o caráter
patrimonialista da sociedade colonial: "deitou-se remendo de pano novo
em vestido velho, vinho novo em odres velhos, sem que o vestido se rompesse,
nem o odre rebentasse".[2] Junia Ferreira Furtado considera
que “a visão dicotômica e inconciliável entre a colônia e a metrópole,
presente em praticamente toda a historiografia, impossibilitou o real
entendimento das relações entre os homens da época, pois, ao contrário do que
afirmavam, a base da dominação era a aceitação generalizada do poder real”.[3] Há, portanto, uma crítica ao conceito de “antigo sistema colonial” de
Fernando Novais e Caio Prado Júnior que subordinava toda a dinâmica interna da
colônia às diretrizes externas da metrópole definindo de forma inexorável sua inserção
no sistema comercial capitalista, de modo que, toda a riqueza seria drenada
para a burguesia mercantil metropolitana, através de um controle rígido e
despótico da Coroa portuguesa, de modo que a classe dominante colonial não
usufruiria das riquezas locais.
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