Os negociantes de Recife tinham de pagar taxas decretadas pela Câmara Municipal de Olinda e estavam excluídos da composição da Câmara reservadas apenas aos senhores de engenho conhecidos como “solares”.[1] O conflito de interesses entre os comerciantes ricos e emergentes de Recife, então um simples subúrbio de Olinda, e a oligarquia açucareira de Olinda viria a desembocar na Guerra dos Mascates em 1710 vencida pelo partido dos mascates, o que levou a expansão da área urbana do Recife que foi elevada a condição de vila com ereção formal de um pelourinho em 1711. Robert Southey observa que o termo mascate significava mercador e não tinha nada de pejorativo.[2] Charles Boxer observa que no Portugal católico o negociante era vista como um parasita aproveitador, que se enriquecia às custas do próximo. Duarte Gomes de Solis em sua “Alegação em favor da Companhia da Índia Oriental” de 1628 relata sua experiência pessoal sobre “o grande ódio que em Portugal se tem contra os homens de negócio”, ainda que o império português fosse essencialmente comercial e marítimo. Duarte Gomes denuncia a perseguição contra que os cristãos novos sofriam em Portugal o que prejudicava o desenvolvimento de atividades comerciais pelos judeus. Padre Antonio Vieira também denuncia que a perseguição aos cristãos novos trazia prejuízos ao Reino. Segundo Júnia Ferreira a perseguição da Inquisição portuguesa aos cristãos novos, muitos dos quais exerciam atividade de comércio, acabou por atrofiar a formação de uma nascente burguesia mercantil, perseguição que seria revertida no governo de Pombal[3]. Charles Boxer aponta como possível origem para a palavra “mascate” os comerciantes de Muscat na Arábia sob domínio português até 1650, sendo usado com “desdenhosa aversão”.[4] Tal aversão prosseguiu após o final da guerra dos mascates. Segundo regulamento de 1774 nenhum oficial dos quatro ofícios anexos da vila de Recife poderia exercer seu ofício sem pagar a bandeira do santo. Na documentação encontrada na pesquisa de Renata Barbosa há o registro de apenas quatro aprendizes denominados “discípulos”. Com as políticas de fomento à economia do marques de Pombal houve a valoração social daqueles que exerciam tais ofícios e paralelamente uma maior ingerência da metrópole nos negócios da Irmandade o que levaria a uma crise significativa nestas instituições.[5] Segundo Júnia Ferreira (figura): “Toda a política pombalina foi orientada para criar, a qualquer custo por meio institucional, uma burguesia nacional, de que tanto carecia o Reino, para seu efetivo desenvolvimento, de modo a acompanhar as modernas nações europeias, particularmente a França e a Inglaterra”.[6]
[1] BOXER, Charles. A idade
de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. São
Paulo:Cia Editora Nacional, 1969, p. 132
[2] SOUTHEY, Robert.
História do Brasil, Brasília: Melhoramentos, 1977, v.3, p. 54
[3] FURTADO,
Júnia Ferreira. Homens de negócio, São Paulo: Hucitec, 2006, p. 35, 39
[4] BOXER, Charles. A idade
de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. São
Paulo:Cia Editora Nacional, 1969, p. 130
[5] BARBOSA, Renata Bezerra
de Freitas. Ser artifície na América Portuguesa: trabalho e organização laboral
no Recife setecentista (o caso da irmandade de São José), Tese mestrado, 2015,
São Paulo: Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, http://www.bv.fapesp.br/pt/publicacao/113409/ser-artificie-na-america-portuguesa-trabalho-e-organizacao/
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