Uma riqueza que aqueceu o mercado interno na colônia foi a comercialização das chamadas drogas do sertão, denominação genérica que incluía especiarias, plantas alimentícias, medicinais e aromáticas e entre as quais cacau, gengibre, pimenta, algodão silvestre, salsaparrilha, baunilha, sementes oleaginosas, anil, madeira de lei e produtos similares ao cravo e à noz moscada. O urucum foi uma das primeiras especiarias exportadas para a Europa.[1] As primeiras experiências com a cochonilha haviam sido feitas em Cabo Frio e posteriormente em Santa Catarina.[2] Em 1729 José Miguel Aires obteve um privilégio de dez anos para montar uma fábrica de anil no Pará.[3] Em 1781 um decreto isentou de impostos por cinco anos todo o anil produzido no Brasil, tendo sido o decreto renovado em 1787 no intuito de estimular a produção na colônia.[4] O anil estava entre os principais produtos exportados pelo Rio de Janeiro entre 1779 e 1807. Em agosto de 1773, o marques de Lavradio designou Jeronimo Vieira de Abreu como inspetor geral das fábricas de anil da Capitania do Rio de Janeiro. Luis de Vasconcelos e Souza assume o vice-reinado em 1779 e dá continuidade à política de fomento à produção de anil. Varnhagen destaca os esforços do vice rei Luís de Vasconcelos (1779-1790) nomeado por Maria I em promover a cultura do anil e a indústria da cochonilha, bem como melhoramentos na capital Rio de Janeiro com a inauguração do Passeio Público. O anil brasileiro, contudo, não conseguiu suportar a concorrência do produto indiano promovido pela Inglaterra. O frei franciscano José Mariano de Conceição Velloso, publica em Lisboa, 1793[5], como diretor da Tipografia do Arco do Cego em Lisboa o livro Fazendeiro do Brasil em que descreve as técnicas para produção de anil. O livro inclui explicações químicas do processo de fermentação do anil para produção das partículas colorantes, embora ainda use a antiga nomenclatura para os compostos numa época em que já se disseminavam na Europa as novas teses de Lavoisier. Paradoxalmente o mesmo livro faz referência a um tratado de Berthelot sobre alvejamento de tecidos que contemplam diversos conceitos da química moderna nos processos de tinturaria. Márcia Ferraz ao se referir ao fato de que a mesma obra se refere a nomenclatura antiga e nova mostra ser um retrato de sua época, marcada pela transição do paradigma químico. Velloso critica as técnicas empíricas usadas na colônia segundo ele feitas por “homens de pouca instrução, como pela maior parte são so cultivadores, entregues a receitas ou mal copiadas, ou mal vertidas, firmados em experiências próprias sem princípios”. Embora idealizado para ser distribuídos nas fazendas da colônia como forma de modernizar as técnicas de produção de anil, o livro Fazendeiro do Brasil teve pouca difusão na colônia.[6]
[1] VIANNA, Helio. História
do Brasil, primeira parte, período colonial. São Paulo: Melhoramentos, 1972,
p.190
[2] LIMA, Heitor Ferreira.
Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro:Fundo de Cultura, 1961, p. 210
[3] VARNHAGEN, Francisco
Adolfo. História geral do Brasil, São Paulo:Melhoramentos, 1948, v. IV, p. 35
[4] LIMA, Heitor Ferreira.
Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro:Fundo de Cultura, 1961, p. 212
[5] PRIORE, Mary del.
Histórias da gente brasileira, Vol. 1 Colônia. Rio de Janeiro:Leya, 2016, p. 68
https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/5137
[6] FERRAZ, Márcia. Saberes antigos e ciência moderna: a produção de anil no Brasil
colonial. In: GOLDFARB, José Luiz;
FERRAZ, Márcia. Anais VII Seminário Nacional de História da Ciência e da
Tecnologia, São Paulo: Unesp, 2000, p. 175-180; FERRAZ, Márcia. As ciências em
Portugal e no Brasil (1772-1822): o o texto conflituoso da química, São Paulo:
Educ/FAPESP, 1997; PESAVENTO, Fábio. O cor do rei: um estudo sobre a produção
do anil no Rio de Janeiro colonial, 1749-1818. http://www.abphe.org.br/arquivos/fabio-pesavento.pdf
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