Gilberto Freyre escreveu Casa Grande e Senzala em 1930, momento da crise das elites luso brasileiras que se consolidaram em 1850. Segundo José Carlos Reis “para legitimar o seu poder em crise, Gilberto Freyre fecha os olhos a todas as dificuldades e tensões do passado. ele o idealiza e o aceita integralmente como modelo e referência para o futuro".[1] Segundo José Carlos Reis: “o livro genial de Freyre renovou a visão do Brasil das elites em crise [...] tenhamos a honestidade de reconhecer que só a colonização latifundiária e escravocrata teria sido capaz de resistir aos obstáculos enormes que se levantaram à civilização do Brasil pelo europeu, só a casagrande e senzala. O senhor de engenho rico e o escravo de esforço agrícola e a ele obrigado pelo regime do trabalho escravo".[2] Na crítica a obra de Gilberto Freyre os marxistas da escola paulista tais como Florestan Fernandes irão descrever Gilberto Freyre como um intelectual orgânico das oligarquias dominantes em crise.[3] Carlos Guilherme Mota critica a visão idílica de Gilberto Freyre quando em Casa Grande e Senzala diz que “os negros trabalharam sempre cantando”, que ressalta a ausência de conflitos de classe. Carlos Guilherme Mota também critica as confusões entre os conceitos de raça e cultura ou a perspectiva de uma ideologia da cultura brasileira baseada em um suposto hibridismo e maleabilidade inatas herdadas dos portugueses.[4] Vamireh Chacon, por sua vez, mostra que são injustas as acusações contra Gilberto Freyre de uma suposta visão emoliente da sociedade, uma vez que ele era contra a escravidão e denunciou o sadismo dos senhores de engenho[5]. Em Casa Grande e Senzala, Gilberto Freyre descreve que : “Não foi toda de alegria a vida dos negros, escravos dos ioiôs e das iaiás brancas. Houve os que se suicidaram comendo terra, enforcando-se, envenenando-se com ervas e potagens dos mandingueiros. O banzo deu cabo de muitos. O banzo, a saudade da África”. Fernando Henrique Cardoso destaca como injustas muitas das críticas a Gilberto Freyre uma vez que ao invés de uma suposta “democracia racial” Gilberto Freyre desenvolveu o conceito de “harmonização de contrários” e conclui “sem dúvida, a idealização do patriarcalismo e a visão menos crítica dos efeitos da escravidão sobre as relações entre negros e brancos contribuíram para a reação negativa e mesmo para o simplismo das críticas”.[6]
[1] REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC, Rio de
Janeiro: FGV., 2003, p.17
[2] REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC, Rio de
Janeiro: FGV., 2003, p.71
[3] REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC, Rio de
Janeiro: FGV., 2003, p.59
[4] CARDOSO, Fernando Henrique. Pensadores que inventaram o Brasil, São Paulo: Cia
das Letras, 2003, p. 87; MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira,
Rio de Janeiro: Ática, 1980.
[5] REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC, Rio de
Janeiro: FGV., 2003, p.61; Chacon, Vamireh em Gilberto Freyre:
uma biografia, Brasiliana n.387, Recife: Fundaj, 1993 intelectual https://bdor.sibi.ufrj.br/handle/doc/436
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