Segundo Manolo Florentino a cachaça (giribita) era um dos produtos mais valorizados na troca de escravos com Angola.[1] O governador Rodrigo José de Mezes destaca suas propriedades fortificantes particularmente úteis para os escravos enfrentarem a lida do dia a dia.[2] Russell Wool destaca que a cachaça era muito apreciada na Baixa Guiné e África Central e a alternativa preferida aos vinhos e conhaques de Portugal e Madeira. [3] Uma ordem régia de 1649 já proibira a venda de cachaça, no entanto a medida de difícil implementação a ponto do padre Vieira em 1662 denunciar que toda a cachaça produzida já estava vendida antes mesmo de sair dos alambiques. [4] Em 1659 em nova proibição as disposições régias previam que se o fabricante clandestino de aguardente fosse “homem de qualidade” seria condenado a seis meses de prisão além de multa de cem cruzados, se fosse escravo seria açoitado nas ruas[5]. Em 1660 um aumento na tarifação da cachaça levou a uma revolta popular liderada por Jerônimo Barbalho Bezerra, quando Salvador Correi de Sá era governador do Rio de Janeiro[6]. A partir do século XVIII os portugueses cuidavam o comércio europeu, enquanto que os brasileiros ficavam com o comércio com a África, de modo que os traficantes brasileiros tornaram-se cada vez mais poderosos, com fortunas maiores do que muitos fazendeiros e mineradores, além de promoverem a produção local de produtos e um comércio interno[7]. Em 1743 a Coroa através de uma Ordem do Conselho Ultramarino proibira a produção de cachaça em Minas Gerais. Este mesmo dispositivo proibia a construção de engenhos de açúcar e aguardente, no entanto, depoimento do governador da capitania Antonio de Noronha de 1777 relata que a determinação vinha sendo burlada.[8] Em 1798 existiam 253 engenhos de aguardente no Rio de Janeiro.[9]
[1] GOMES, Laurentino.
Escravidão, v.I, São Paulo: Globo, 2019. p.226; FLORENTINO, Manolo. Em costas
negras, São Paulo: UNESP, 2014, p. 103, 127
[2] RUSSELL WOOD, Escravos e libertos no Brasil colônia, Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2005, p.177
[3] RUSSELL WOOD, A. Histórias
do Atlântico português, São Paulo: UNESP, 2021, p. 110
[4] ALENCASTRO, Luiz Felipe
de. O trato dos viventes, São Paulo:Cia das Letras, 2000, p. 317
[5] BRITO, José Gabriel
Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155,
São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.68
[6] AQUINO, Fernando,
Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000,
p.293
[7] CALDEIRA, Jorge.
História do Brasil, São Paulo:Cia das Letras, 1997, p.78
[8] MENESES, José Newton.
Os alambiques, a técnica da produção da cachaça e seu comércio na América
portuguesa. In: BORGES, Maria Eliza. Inovações, coleções, museus. Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2011, p.141
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