Para Platão os sentidos podem confundir nossa mente de
modo que, por exemplo, enquanto a ideia de um círculo é perfeita a sua
representação concreta em um desenho será sempre imperfeita pois a percepção da
realidade é sempre distorcida pelos nossos sentidos.[1] Segundo Platão
o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o conhecimento é um objeto da
razão e não da sensação, o que viria a compor o fundamento da teoria das
ideias.[2] E.
Maschio prefere chamar a teoria platônica de teoria das formas ao invés de
teoria das ideias, ainda que o próprio Platão tenha usado os dois termos para
definir o mesmo conceito, pois para Platão as ideias não se referem a algo que
seja uma mera construção mental, como um sonho, mas constituem entes reais,
existentes independentes da existência do ser, e por esta razão o termo “teoria
das formas” é mais preciso. Em Platão “idea” e “eidos” são
traduzidos como “forma” como um tipo de objeto independente da mente e
não como uma construção meramente mental.[3] Para
Hare essa perspectiva de Platão pode ser influenciada pela forma como o idioma
grego é construído ao destacar o objeto
direto sempre depois do verbo “conhecer”, por exemplo: “Conheço Menon, quem
ele é”, o que contribui um pouco para explicar a dificuldade de Platão de separar definições de palavras de
definições de coisas, a pensar no conhecer/saber como ser[4]. Ao ver
um cavalo, apesar das particularidades deste cavalo, podemos classifica-lo como
um cavalo, como um reflexo de um cavalo ideal, imutável e único que existe no
mundo das ideias dotado de um status ontológico (relativo ao próprio ser) privilegiado,
causa e origem de todos os demais cavalos que conhecemos. A realidade das
formas ideias de Platão não é algo que faça parte de nossa realidade ou
experiência. O conhecimento só pode resultar do raciocínio puro sem se
“contaminar” com os nossos sentidos ou de nossa experiência. Para Bernard
Williams entendiam a realidade a partir do mundo das ideias e não do mundo
físico, o mundo das aparências: “para o
pensamento grego a distinção entre aparência e realidade era tão fundamental e
o conhecimento tão vinculado à realidade, que o conhecimento constituído
meramente de aparências subjetivas talvez não contasse absolutamente como
conhecimento autêntico”.[5] Para
Bertrand Russel a teoria das formas de Platão tende a ignorar as diferenças
entre os objetos: “Platão encontra-se continuamente em confusão, porque não
entende os termos relativos”. Dal Maschio observa a ironia de que o
desprezo de Platão pelas aparências é apontada por Diógenes Laércio em sua
pitoresca Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres que narra que o nome
de batismo de Platão era Arístocles, como sendo que o nome Platão teria sua
origem de “platos” “amplo” (de platôs) devido à sua aparência
corpulenta ou devido à sua testa grande.[6]
[1] ZINGANO, Marco. Platão
& Aristóteles: o fascínio da filosofia, São Paulo:Odysseus Editora, 2002,
p.10
[2] ZINGANO, Marco. Platão
& Aristóteles: o fascínio da filosofia, São Paulo:Odysseus Editora, 2002,
p.37
[3] HARE, R. Platão, São Paulo: Loyola, 1996, p. 49
[4] HARE, R. Platão, São Paulo: Loyola, 1996, p. 49
[5] WILLIAMS, Bernard. Filosofia. In: FINLEY, Moses. O legado da Grécia.
Brasília: UNB, 1998, p. 269
Nenhum comentário:
Postar um comentário