quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Teoria das formas de Platão

 

Para Platão os sentidos podem confundir nossa mente de modo que, por exemplo, enquanto a ideia de um círculo é perfeita a sua representação concreta em um desenho será sempre imperfeita pois a percepção da realidade é sempre distorcida pelos nossos sentidos.[1] Segundo Platão o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o conhecimento é um objeto da razão e não da sensação, o que viria a compor o fundamento da teoria das ideias.[2] E. Maschio prefere chamar a teoria platônica de teoria das formas ao invés de teoria das ideias, ainda que o próprio Platão tenha usado os dois termos para definir o mesmo conceito, pois para Platão as ideias não se referem a algo que seja uma mera construção mental, como um sonho, mas constituem entes reais, existentes independentes da existência do ser, e por esta razão o termo “teoria das formas” é mais preciso. Em Platão “idea” e “eidos” são traduzidos como “forma” como um tipo de objeto independente da mente e não como uma construção meramente mental.[3] Para Hare essa perspectiva de Platão pode ser influenciada pela forma como o idioma grego é construído  ao destacar o objeto direto sempre depois do verbo “conhecer”, por exemplo: “Conheço Menon, quem ele é”, o que contribui um pouco para explicar a dificuldade de Platão  de separar definições de palavras de definições de coisas, a pensar no conhecer/saber como ser[4]. Ao ver um cavalo, apesar das particularidades deste cavalo, podemos classifica-lo como um cavalo, como um reflexo de um cavalo ideal, imutável e único que existe no mundo das ideias dotado de um status ontológico (relativo ao próprio ser) privilegiado, causa e origem de todos os demais cavalos que conhecemos. A realidade das formas ideias de Platão não é algo que faça parte de nossa realidade ou experiência. O conhecimento só pode resultar do raciocínio puro sem se “contaminar” com os nossos sentidos ou de nossa experiência. Para Bernard Williams entendiam a realidade a partir do mundo das ideias e não do mundo físico, o mundo das aparências: “para o pensamento grego a distinção entre aparência e realidade era tão fundamental e o conhecimento tão vinculado à realidade, que o conhecimento constituído meramente de aparências subjetivas talvez não contasse absolutamente como conhecimento autêntico”.[5] Para Bertrand Russel a teoria das formas de Platão tende a ignorar as diferenças entre os objetos: “Platão encontra-se continuamente em confusão, porque não entende os termos relativos”. Dal Maschio observa a ironia de que o desprezo de Platão pelas aparências é apontada por Diógenes Laércio em sua pitoresca Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres que narra que o nome de batismo de Platão era Arístocles, como sendo que o nome Platão teria sua origem de “platos” “amplo” (de platôs) devido à sua aparência corpulenta ou devido à sua testa grande.[6]

[1] ZINGANO, Marco. Platão & Aristóteles: o fascínio da filosofia, São Paulo:Odysseus Editora, 2002, p.10

[2] ZINGANO, Marco. Platão & Aristóteles: o fascínio da filosofia, São Paulo:Odysseus Editora, 2002, p.37

[3] HARE, R. Platão, São Paulo: Loyola, 1996, p. 49

[4] HARE, R. Platão, São Paulo: Loyola, 1996, p. 49

[5] WILLIAMS, Bernard. Filosofia. In: FINLEY, Moses. O legado da Grécia. Brasília: UNB, 1998, p. 269

[6] MASCHIO, E. Platão: a verdade está em outro lugar, São Paulo: Salvat, 2015, p.14




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