Walter Ceram destaca que nos povos antigos não há livros ou registros da
história no sentido moderno, o que segundo Oswald Spengler se explica pelo modo
característico de encarar os acontecimentos e a noção de progresso. No Egito o
que se encontra são anais incompletos e indicações de acontecimentos em que se
misturam com frequência fatos, lendas e fábulas. Uma exceção foi Manethon de
Sebanytus, que viveu no século IV a.c. e que escreveu uma história do Egito em
grego intitulada “Feitos memoráveis do
Egito” [1] um texto que constava da biblioteca de Alexandria mas que se perdeu.[2] Manethon, que entendia a
escrita hieroglífica egípcia[3] bem como grego escreveu a História do Egito em 30 volumes, hoje
perdido, em que refuta os erros de Heródoto caracterizado pela credulidade e
imprecisão por não verificar suas fontes e reproduzir mesmo as poucos
confiáveis[4]. Mesmo as relações de reis
encontradas, como por exemplo a chamada lista dos antigos reis babilônicos WB
444 são marcadas por erros e imprecisões. A ordem dos acontecimentos muitas
vezes não é respeitada. Segundo Walter Ceram: “um cronista copiava de seu predecessor, limava passagens arestosas para
que conviessem a seu gosto, acrescentava anedotas que ouvira do bisavô, e
passava essa versão joeirada da história ao cronista seguinte, que a tratava da
mesma maneira”.[5] Manethon dividie os faraós em trinta grupamentos em períodos que ficaram
conhecidos como dinastias, ainda que não com o sentido de reunir pessoas do
mesmo grupo familiar. Por exemplo na XVIII dinastia os dois primeiros faraós,
Akmosa e Amenhotep I, são sucedidos por Tuthmose, um plebeu que não tinha
relação com os governantes que o antecederam[6]. Segundo Walter Ceram: “Mesmo os gregos, em geral, não possuíam
senso histórico, ignoravam as datas e descuidadamente amontoavam acontecimentos
e personagens da história, até que tudo era tremenda confusão, como podemos ver
em Heródoto”.[7] Em Heródoto são frequentemente incorretas suas cronologias, no entanto, segundo
Rostovtzeff “embora estejamos cientes
disso, muitas vezes somos incapazes de corrigir seus erros devido à falta de
outras autoridades”.[8] Maurice Crouzet sobre o
Egito Antigo comenta que “o impulso
natural levou-os sempre a sentir saudade do passado que tentavam ressuscitar. O
seu ser, pelo menos o coletivo, não foi amparado pela ideia de progresso que o
futuro podia trazer-lhes. Sem dúvida faltou-lhes a imaginação confiante que
pudessem concebê-la: era com aquilo que tinha existido outrora, que não mais
vivia, mas que podia e devia renascer, que insistiam em sonhar”. [9]
[9] CROUZET, Maurice.
História Geral das Civilizações: O Oriente e a Grécia Antiga: as civilizações
imperiais, v. I, Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 1998, p. 52
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