Na obra Harmonica mundi de 1619 Kepler enuncia a
terceira lei de Kepler conhecida como lei dos períodos e foi formulada dez anos
após a lei das áreas (2ª lei de Kepler). Essa lei mostra a relação diretamente
proporcional entre o período de revolução de um planeta ao redor do Sol e o
raio médio da órbita do planeta. Ela pode ser enunciada da seguinte maneira: Os
quadrados dos períodos de revolução dos planetas ao redor do Sol são
diretamente proporcionais aos cubos dos raios médios de suas órbitas. Considerada
um marco da revolução científica a descoberta está diretamente com aspectos
metafísicos da filosofia antiga que remontam ao Antigo Egito. Ao calcular as
velocidades mais altas e mais baixas de cada planeta em sua órbita elíptica
Kepler associou estes valores com a escala musical mostrando a harmonia do
universo, uma referência a “música das
esferas” de discípulos posteriores[1] de Pitágoras
e Platão[2] Segundo
Kepler “Aquilo que vinte e dois anos atrás profetizei tão logo descobri os cinco sólidos entre as órbitas celestes [em
referência a seu livro Mistério do Universo de 1597] . Aquilo em que finalmente
cri, muito antes de haver visto a harmonia de Ptolomeu [...] Finalmente eu
trouxe à luz e conheci sua verdade em todas as minhas expectativas [...]
Entrego-me a uma verdadeira orgia sagrada. Enfurecei a humanidade com a cândida
confissão de que roubei os vasos de ouro dos egípcios a fim de construir com
eles um tabernáculo para o meu Deus. Perdoai-me”.[3] Kepler
justificou as órbitas elípticas recorrendo a tradição pitagórica neoplatônica
das esferas celestes, pois em órbitas circulares com velocidade constante os
planetas só poderiam gerar tons únicos ao passo que um planeta que se movesse
numa órbita elíptica em velocidade variável poderá gerar um variedade de notas[4]. Segundo
Edwin Burtt tais teorias de Kepler “estão
claramente vinculadas a seu objeto central, qual seja, determinar novas
harmonias matemáticas no modelo de Copérnico, sem grandes preocupações com a
utilidade que pudessem apresentar para realizações futuras, ao contrário do que
passou a acontecer com os trabalhos científicos posteriores”.[5] Para Kepler: “todo conhecimento certo
tem que ser o conhecimento das características quantitativas; o conhecimento
perfeito é sempre o matemático”.[6] Quando William Gilbert publicou sua influente obra sobre magnetismo em
1600, Kepler julgou ter encontrado a força motora dos movimentos celestes que
não seria qualquer espírito ou alma universal mas uma força: “a máquina celeste não é tanto um organismo
divino, mas antes um mecanismo de relógio na medida em que toda a variedade de
movimentos é executada por meio de uma
única e muito simples força magnética do corpo, do mesmo modo que num relógio
todos os movimentos nascem de um peso muito simples”.[7] William Gilbert, contudo, em sua
obra havia associado o magnetismo com a doutrina da animação universal de
Hermes e Zoroastro .[8]
[1] GORMAN, Peter.
Pitágoras, uma vida, São Paulo:Círculo do Livro, 1993, p. 193
[2] RONAN, Colin. História
Ilustrada da Ciência: Da Renascença à Revolução Científica. v.3, São
Paulo:Jorge Zahar, 2001, p.78, 88; McCLELLAN III, James; DORN, Harold. Science and technology on world history: an introduction. The Johns
Hopkins University Press, 1999, p.220; BRONOWSKI, J. A escalada do homen, São
Paulo:Martins Fontes, 1979, p.157; WEST, John Anthony. Em defesa da astrologia,
São Paulo:Siciliano, 1992, p. 96
[3] MACHADO, Jorge. O que é alquimia ? Coleção primeiros passos, São Paulo:
Brasiliense, 1991, p. 42
[4] HENRY, John. A
revolução científica e as origens da ciência moderna. Rio de Janeiro:Zahar,
1998, p. 60
[5] BURTT, Edwin Arthur. As
bases metafísicas da ciência moderna. Brasília: UNB, 1984, p. 48
[6] BURTT, Edwin Arthur. As
bases metafísicas da ciência moderna. Brasília: UNB, 1984, p. 51
[7] BOORSTIN, Daniel. Os descobridores,
Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.289
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