domingo, 19 de setembro de 2021

A medicina colonial de índios, jesuítas e negros

 

Na medicina Fernão Cardim, em seu Tratado da terra e gente do Brasil, publicado em 1625 apresenta uma relação de plantas que serviam como ervas-medicinais: tetigcucu (jeticucu), igpecacoáya (ipecacuanha), cayapiá (caapiá), tereroquig (tereroqui), petum (tabaco), guaraquigynha (erva-moura). Segundo Carlos Miranda “embora mística, a medicina indígena tem uma base experimental”. [1] Como assinalou Von Martius que esteve no Brasil no período de D. João VI, ao descrever a medicinal tradicional indígena afirma: “a mata é a sua farmácia”.[2] Os índios da América do Sul usavam a casca da quina para o combate da febre. Guilherme Piso naturalista e médico de Maurício de Nassau publicou em 1648 De medicina brasiliense, descrevendo a medicina herbária indígena. Os jesuítas levaram o “pó jesuítico” para Europa onde foi usado com sucesso no combate à malária. No século XIX já se sabia que ingrediente ativo da quina, o quinino, era o princípio ativo eficaz contra a doença.[3] Os padres da Companhia de Jesus foram os primeiros a exercer atividades de boticário no Brasil Colonial. Em sua obra Artes e ofícios dos jesuítas no Brasil, Serafim Leite apresenta uma lista com o nome de 45 boticários, que aqui se instalaram. As caixas de botica, geralmente importadas da metrópole, foram muito utilizadas pelos jesuítas durante o trabalho de catequese no interior do Brasil. Em Portugal a botica conventual teve o seu apogeu no final do século XVII. Médicos e cirurgiões são formados em Coimbra no século XVIII em um ambiente de decadência e atraso da medicina na metrópole portuguesa sob influência poderosa dos jesuítas. Serafim Leite relata que o Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro em 1706 era uma espécie de laboratório central abastecendo as boticas da cidade.[4] Entre os escravos negros, Katia Mattoso observa que o senhor de engenho tão logo soubesse que um escravo era feiticeiro conhecedor de ervas ou magia, tratava de vendê-lo com receio de que pudesse ser envenenado.[5]



[1] MIRANDA. Carlos Alberto Cunha. A arte de curar nos tempos da colônia. Recife:UFPE, 2017, p.224

[2] EDLER, Flavio Coelho. Boticas & Pharmacias: uma história ilustrada da farmácia no Brasil, Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2006, p. 25

[3] MOSLEY, Michael.Uma história da ciência. Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p. 83

[4] CUNHA, Luiz Antonio. Aspectos sociais da aprendizagem de ofícios manufatureiros no Brasil colônia. Forum:Rio de Janeiro, v.2, out/dez 1978, p.38

[5] MATTOSO, Katia M. Queirós. Ser escravo no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Vozes. Edição do Kindle, 2016, p.189



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