Segundo o suíço Alfred Métraux os povos da cultura
tupi aprenderam suas técnicas de agricultura e cerâmica dos povos andinos.[1] Alfred
Metraux (figura) designa os tupinambás como um “povo agrícola” porém, em seu trabalho
como no de Florestan Fernandes fica evidente que a agricultura não tinha um
papel central nesta sociedade[2]. Gilberto
Freyre aponta a pouca tradição da agricultura entre os povos indígenas uma
razão principal para não adequação ao regime escravista imposto pelo
colonizador português, ao contrário do negro africano proveniente de uma
cultura francamente agrícola.[3] Saint
Hilaire destaca que os botocudos não possuíam agricultura e viviam da caça,
pesca e dos frutos da mata.Segundo Nieuhof
“os tapuias não semeiam ou
plantam qualquer outra coisa que não a mandioca, e sua alimentação usual é constituída
de frutos, raízes, ervas, animais selvagens e, às vezes mel silvestre: que
colhem do oco das árvores”. O francês André Thevet ao descrever o povo
tupinambá se refere a um profeta antepassado conhecido pelo nome de Maíramuana
introdutor da agricultura que lhe teria sido contado pelos caciques morubixabas
/ mombixabas
(
mborubichab - chefe e
tubichab – grande)[5] tais
como Kunhambeba e Pindobuçu.[6] Não há
consenso sobre os fatores que teriam conduzido ao desenvolvimento da
agricultura na Amazônica e contribuído para fixação de sociedades avançadas. A
terra negra, rica em fósforo, cálcio, magnésio e manganês, encontrada na
Amazônica fértil e fundamental para o desenvolvimento da agricultura teria sido
para alguns estudiosos resultado da ação deliberada do homem enquanto que
outros pesquisadores como argumentam que teria sido o resultado ocasional da
reunião de nutrientes e matéria orgânica.[7] A
formação de terra negra envolvia a queima de restos de comida (em um universo
onde não havia animais domesticados para se alimentarem das sobras) fezes e lixo
domiciliar[8]. Para Maria
Cristina Tenório “
a introdução da agricultura por grupos pré históricos
brasileiros não acarretou uma revolução, significando antes um mecanismo
utilizado por determinados grupos em situações específica”. O início do
processo de sedentarização ocorre não pelo advento da agricultura mas pela descoberta
de locais que possibilitassem a intensificação da coleta de frutos e raízes,
tais como a mandioca.[9] Segundo
Gabriel Soares em
Tratado Descritivo do
Brasil de 1938 os tapuia eram desprovidos de todo e qualquer utensílio na
agricultura exceto pelo uso de pau de ponta. Diversos autores como Southey,
Saint Hilaire e Varnhagen ressaltam a prática da agricultura brasileira da
coivara entre os índios.[10] Frei
Vicente Salvador destaca a agricultura predatória adotada pelos colonizadores
portugueses que usam a terra “
não como
senhores, mas como usufrutuários, só para desfrutarem e a deixarem destruída
[...] Donde nasce também que nem um homem nessa terra é republico, nem zela ou
trata do bem comum, senão da um do bem particular”.[11] Saint
Hilaire no século XIX descreve que “
todo
o sistema da agricultura brasileira é baseado na destruição das florestas e
onde não há matas não existe lavoura”.[12] Segundo
Thevet, “
é assim que preparam suas terras
para o cultivo: primeiramente, cortam sete ou oito jugadas de mato, deixando de
pé apenas as árvores mais altas que um homem. Depois ateiam fogo nos troncos e
ervas, roçando e limpando todo o terreno. Em seguida sugam a terra com certos
instrumentos de madeira (ou de ferro, depois que tiveram conhecimento destes).
Em seguida, as mulheres plantam o milho indígena e certas raízes chamadas
etique (batata-doce), escavando com o dedo uma cova, como se usa entre nós
quando plantamos ervilhas e favas”.[13]
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