Marc Bloch mostra que até o final do século XI, exceto temporariamente pela renascença carolíngia, a mentalidade religiosa prevalecente no período medieval era desprovida de qualquer base racional ou especulação lógica “É-nos permitido dizer que nunca a fé mereceu tanto esse nome”.[1] Segundo Daniel Rops (na figura): “Tudo e todos só existem em função da fé cristã. Ela é a pedra angular do edifício. A religião impõe-se aos espíritos como um absoluto que ninguém discute. Não se vê menor traço de indiferentismo e menos ainda de ateísmo. Do mais humilde ao mais importante, é uma sociedade inteira que crê”.[2] Martin Stevers destaca que a escolástica lançava as bases do pensamento moderno na medida em que baseada na lógica aristotélica como se observa nas obras de Alberto Magno (1193-1280); do frade dominicano Vicente de Beauvais (1190-1264) autor da enciclopédia Speculum Maius (O grande espelho) com ensinamentos sobre a natureza, doutrina (entre as quais temas relativos as artes liberais mecânicas, direito e medicina) e história; do franciscano escocês João Duns Scotus (1266-1308) (não confundir com o teólogo irlandês João Escoto Erígena 810-877), do bispo inglês Robert Grosseteste (1175-1253) (cabeça grande) e do frade franciscano Roger Bacon (1214-1292)[3]. Para Otto Carpeaux, Vicente de Beauvais em sua obra integra o conhecimento grego ao cristianismo: “Na enciclopédia imensa de Vincentius de Beauvais, o Spenculum maius, toda a Antiguidade está presente, em inúmeras citações; já não se sente quase diferença alguma entre as parábolas do Evangelho de Lucas e os contos de Ovídio, entre as viagens dos apóstolos e as dos heróis homéricos [...] O mundo antigo do século XIII é um tapete multicolor, comparável aos tecidos amplos e fantásticos que o Museu Cluny guarda”.[4]
[1] BLOCH, Marc. A
sociedade feudal, Lisboa:Edições 70, 1982, p.104
[2] AQUINO,
Felipe. Uma história que não é contada, Lorena: Cleofas, 2008, p. 84
[3] STEVERS, Martin. A
inteligência através dos séculos. São Paulo:Globo, 1946, p.410
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