quarta-feira, 22 de setembro de 2021

A magia simpática das pinturas rupestres

 

Para o abade Henri Breuil as evidências mostram que estes homens das cavernas eram ao mesmo tempo artistas e magos[1], uma forma de “magia simpática”. Para Henri Breuil: “nas cavernas do período glaciário o homem sonhou pela primeira vez, inconsciente e vagamente ainda, com uma arte grandiosa e com as possibilidades do ser humano”.[2] Para o abade Henri Breuil os desenhos eram parte de cerimônias secretas conduzidos por curandeiros e iniciados. Marcellin Boule, no entanto, observa que para um ritual mágico não seriam necessários pinturas tão bem feitas, o que revela um inerente amor à arte[3]. Bastões feitos de presas de mamute adornados com figuras de animais mostram o caráter mágico da época.[4] Para Herbert Wendt: “não foi apenas pelo prazer do adorno e da beleza, por motivos religiosos e nem tampouco somente para propiciar a caça com fetiches, mas por uma profunda necessidade humana que reunia todos esses motivos, que os homens primitivos do princípio do aurignaciano se foram tornando pouco a pouco criadores e artistas”.[5] Para o filósofo Pierre Lecomte Du Nouy: “O madalenense é um grande artista. As pinturas com que ele ornamentou as suas cavernas são em muitos casos admiráveis. Estas manifestações inúteis (tomo esta palavra no sentido não absolutamente necessárias para conservar ou defender a vida) marcam a data mais importante de toda a história dos seres organizados. São a prova do progresso do espírito humano, no sentido de afastamento do animal. Os atos inúteis do homem são na realidade os únicos que contam: levam consigo o germe das ideias abstratas, o germe das ideias de Deus, desligado do terror puro, o germe da moral, da filosofia, da ciência [....] se houvesse necessidade de uma prova da diferença fundamental, essencial entre o homem e o animal, o aparecimento imprevisto, inconcebível dos atos inúteis a forneceria”.[6] Por sua vez, sob a influência do estruturalismo da década de 1960 Annette Emperarie e André Gourhan argumentam que as pinturas rupestres apresentam uma estrutura que encontra correspondência a um modelo de sociedade.[7]



[1] SENET, André. O homem descobre seus antepassados, Belo Horizonte:Itatiaia, 1964, p.93

[2] WENDT, Herbert. A procura de Adão. São Paulo:Melhoramentos, 1965, p. 269

[3] STEVERS, Martin. A inteligência através dos séculos. São Paulo:Globo, 1946, p.124

[4] STEVERS, Martin. A inteligência através dos séculos. São Paulo:Globo, 1946, p.125

[5] WENDT, Herbert. A procura de Adão. São Paulo:Melhoramentos, 1965, p. 263

[6] CARVALHO, Benjamin de Araújo. A história da arquitetura, Rio de Janeiro:Edições de Ouro, p.17

[7] FILHO, Ivan Alves. História pré colonial do Brasil, Rio de Janeiro: Europa Editora, 1987, p.117



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