sábado, 14 de agosto de 2021

Taxa de alforriados no Brasil imperial

 

Na especialização que havia nos engenhos os escravos mais valorizados eram os que trabalhavam na purga, mestres de açúcar, supervisores, carpinteiros, ferreiros e ferramenteiros.[1] Stuart Schwartz mostra que o treinamento em ocupações especializadas na indústria de açúcar ou em ofícios como carpintaria, caldeireiro, calafates, carreiros, tacheiros, marinheiros, lenhadores, ferreiros, marceneiros, entre outros[2] permitia o escravo juntar um pecúlio, que poderia usar para compra de sua alforria o que servia como instrumento para adquirir maior produtividade, embora os dados disponíveis indiquem que o número de alforriados sempre foi muito baixo, inferior a 1% [3] e ainda assim o escravo alforriado corria o risco de ser reescravizado.[4] Segundo Slenes no início da década de 1870 a estimativa para “todo o Brasil” de 6,3 escravos alforriados a cada 1000 (ou seja, 0,63%) é para as treze províncias que oferecem dados; para São Paulo e Rio de Janeiro, as estimativas são de 4,8 e 3,4/1000. Estas estimativas são subestimativas, pois os dados oficiais sobre alforrias são menos completos do que os dados sobre população.[5] No convento do Carmo em Salvador há o registro de um escravo alforriado que foi reescravizado por calúnias proferidas quanto a seus antigos proprietários religiosos. [6] John Mawe em visita a Minas Gerais observa que os escravos recebiam um prêmio ao encontrar um diamante: “quando uma gema entre oito e dez quilates é encontrada, o negro recebe duas camisas novas, um terno completo, com chapéu e uma bonita faca”[7], em alguns casos o escravo era alforriado por ter encontrado determiada quantidade ou valor em ouro ou diamantes.[8] Nesses casos conforme previa a legislação em vigor, o proprietário seria indenizado pelas autoridades em 400 mil reis. [9] Por volta de 1780 havia no Brasil cerca de 400 mil negros libertos o que correspondia a cerca de um quarto de toda a população escrava. Em 1800 esse percentual aumenta para 30%. [10] O forro Antonio Alves Guimarães deixou patrimônio avaliado em 412 mil reis[11]. Jorge Caldeira cita a taxa brasileira de alforriados de 5% a meio caminho entre Cuba com 13% e Estados Unidos com 1%.[12] Slenes mostra que a taxa de alforriados no Império (0,63%) era cerca de catorze vezes maiores do que no sul dos Estados Unidos por volta de 1850.



[1] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.I, São Paulo: Globo, 2019. p.326

[2] CALDEIRA, Jorge. A nação mercantilista, São Paulo:Ed. 34, 1999, p. 77

[3] GOMES, Laurentino. Escravidão v. II, Rio de Janeiro:GloboLivros, 2021, p. 19

[4] SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 275

[5] NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil , v.2, São Paulo:Companhia das Letras, 2019. Edição do Kindle, p.237

[6] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.II, São Paulo: Globo, 2021. p.232

[7] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.II, São Paulo: Globo, 2021. p.211

[8] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.II, São Paulo: Globo, 2021. p.231

[9] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.II, São Paulo: Globo, 2021. p.234

[10] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.II, São Paulo: Globo, 2021. p.227

[11] PRIORE, Mary del. Histórias da gente brasileira, v.1 Colônia.Rio de Janeiro:Leya, 2016, p. 103

[12] CALDEIRA, Jorge. História do Brasil com empreendedores, São Paulo:Mameluco, 2009, p.229



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