sábado, 14 de agosto de 2021

O latifúndio escravista e as pequenas propriedades escravistas

 

Estudos de Rae Jean Dell Flory[1] e Stuart Schwartz mostram que a regra no Brasil colónia não eram engenhos como centenas de escravos mas uma pluralidade de unidades menores, a situação do proprietário menor com poucos escravos era dominante entre os plantadores de cana: “havia muito mais mercado interno e mobilidade social que as indicadas em hipóteses diretamente montadas sobre latifúndio”[2] dado confirmado na tese de Claudia Fuller de 1995 sobre os pequenos agricultores na economia açucareira.[3] Slenes mostra que 64% das propriedades (chamadas fogos) com escravos em 1829, e provavelmente uma proporção ainda maior em 1872, tinham menos de dez cativos[4]. Peter Eisenberg mostra que no município de Escada em Pernambuco dos 84 engenhos registrados no decênio de 1850 apenas 15% tinham mais de 3 mil hectares, sendo que a média das propriedades não açucareira é ainda menor, cerca de vinte vezes em relação aos engenhos de açúcar.[5] Jorge Caldeira estima que a imensa maioria dos proprietários rurais tinha menos de cinco escravos.[6] Manolo Florentino, contudo, mostra que entre 1790 e 1835 as propriedades rurais com mais de cinquenta escravos (plantations) concentravam em um e dois terços do total de escravos. Quase todos os homens livres inventariados na pesquisa eram proprietários de pelo menos um escravo.[7] Um relatório do marquês de Lavradio na capitania do Rio de Janeiro informava que os engenhos com mais de 41 escravos detinham 55% dos escravos rurais, ainda que o número médio de escravos por engenhos fosse menor do que o observado em outras regiões como a Bahia. Os dados de 1790-1835 de Manolo Florentino para o meio rural do rural do Rio de Janeiro mostram que a participação da faixa dos engenhos com mais de cinquenta escravos passou de um terço do total de escravos em 1790 para dois terços em 1835, ou seja, houve um aumento desta concentração da participação das plantations.[8]



[1] CALDEIRA, Jorge. História da Riqueza no Brasil, Rio de Janeiro:Estação Brasil, 2017, p.115

[2] CALDEIRA, Jorge. História do Brasil com empreendedores, São Paulo:Mameluco, 2009, p.116, 122

[3] CALDEIRA, Jorge. História do Brasil com empreendedores, São Paulo:Mameluco, 2009, p.272

[4] NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil , v.2, São Paulo:Companhia das Letras, 2019. Edição do Kindle, p.204

[5] EISENBERG, Peter. Modernização sem mudança: a indústria açucareira em Pernambuco 1840-1910. São Paulo: Unicamp, 1977, p.151

[6] CALDEIRA, Jorge. História da Riqueza no Brasil, Rio de Janeiro:Estação Brasil, 2017, p.161

[7] GOMES, Laurentino. Escravidão v. II, Rio de Janeiro:GloboLivros, 2021, p. 108

[8] FLORENTINO, Manolo. Em costas negras, São Paulo: UNESP, 2014, p. 28



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