O Ocidente em centro de produção de tecidos como em Flandres, Picardia, Bruges e Languedoc tornara-se exportador de produtos manufaturados com mercadorias expedidas para o mundo bizantino, para o levante islâmico ou latino e para o Maghreb: “na expansão da economia europeia da Idade Média, os tecidos desempenharam o mesmo papel primordial que no século XIX coube na Inglaterra á metalurgia e aos algodões”.[1] No século XII o contato com a civilização islâmica na Espanha e no sul da Itália promoveu um renascimento, expressão usada por Charles Haskins[2], ao se difundir o acesso aos textos gregos clássicos e da lógica aristotélica estudados nas universidades que se formavam de Bolonha, Pádua, Paris e Oxford.[3] Segundo Gustave Cohen a difusão da ciência greco árabe (especialmente através da Espanha pela escola de tradutores de Toledo com a tomada pelos cristãos em 1085) e o estudo do direito romano serão a base das universidades do século XII.[4] Este renascimento do século XII teria como componentes fundamentais a dialética de Pedro Abelardo (1079-1142) nascida com a redescoberta das obras de Aristóteles e um intenso trabalho de traduções do legado cultural árabe.[5] A dialética era a forma de provar certa proposição recorrendo-se a argumentos contrários.[6] Sua obra Sic et non que expõe um método lógico em que cada a questão é apresentada junto com os argumentos das autoridades contra e a favor àquele assunto, será usada na Summa Teológica de Tomás de Aquino. Pedro Abelardo comenta orgulhoso sobre o exercício da razão: “Meus alunos reclamavam das razões humanas; faltavam-lhes explicações inteligíveis, mais do que afirmações. Diziam que é inútil falar se não se fornece a inteligência desses propósitos, e que ninguém pode crer se não tiver primeiro compreendido”.[7] Anselmo de Laon (1117), Guilherme de Champeaux (1070-1121) e Pedro Lombardo (1164) conhecido com “mais célebre dos sentenciários” podem ser mencionados como no mesmo movimento de Pedro Abelardo no sentido de acumular e unificar a tradição cristã. Segundo Ruy Afonso: “do ponto de vista educacional, o renascimento do século XII foi sobretudo literário e graças ao aumento do saber por meio das traduções, também científico”.[8] Outros eixos desse renascimento cultural incluem i) os humanistas da escola de Chartres como Constantino Africano, Adelardo de Bath, Bernardo de Chartres (1124-1130) entre outros, ii) os monges Bernardo de Claraval (1091-1153) e Hugo de São Vítor (1096-1141) que renovaram os mosteiros cristãos.[9]
[1] BLOCH, Marc. A
sociedade feudal, Lisboa:Edições 70, 1982, p.91
[2] NUNES, Ruy Afonso da
Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.195
[3] CORNELL, Tim; MATHEWS,
John. Renascimento v.I ,Grandes Impérios e Civilizações, Lisboa:Ed. Del Prado,
1997, p. 16
[4] JANOTTI, Aldo. Origens da Universidade, São Paulo: Edusp,1992, p.79
[5] MORTIMER, Ian. Séculos
de transformações. Rio de Janeiro:DIFEL, 2018, p. 61
[6] JÚNIOR, Hilário Franco.
A idade média nascimento do Ocidente, São Paulo:Brasiliense, 2004, p.118
[7] DUBY, George. A Europa na Idade Média, São Paulo: Martins Fontes, 1988, p.66
[8] NUNES, Ruy Afonso da
Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.218
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