Bernard
de Chartres em 1114 exprime sua confiança no progresso: “Somos anões empoileirados nos ombros de gigantes. Vemos assim mais que
eles e mais longe que eles, não porque nossa vista seja mais aguda ou nossa estatura
mais alta, mas porque eles nos elevam até o nível de sua gigantesca altura”.[1] Pedro de Blois em 1153 em pleno renascimento do século XII, retoma a mesma
analogia: “malgrado os latidos dos cães e os grunhidos dos porcos, eu não
cessarei de imitar os escritos dos antigos; eles serão minha ocupação e, tanto
quanto minhas forças o permitirem, o sol jamais me encontrará ocioso. Nós somos
como anões, montados sobre os ombros de gigantes, por seu favor nossa vista
alcança mais longe do que a deles, quando, apegando-me às obras dos antigos,
restituímos à vida os seu mais elegantes pensamentos, que o tempo ou a
negligência dos homens tinham deixado morrer”.[2] Jacques Verger considera contudo que esta perspectiva de progresso no
conhecimento permanecia pouco comum,
especialmente após o século XIII quando uma “concepção conservadora e bloqueada do saber parecia predominar”.[3] Para Jacques le Goff o intelectual do século XII tem como principal técnica a
imitação dos antigos. Gilbert de Tournai escreve: “Jamais encontraremos a verdade se nos contentarmos com o que já está descoberto
[..] os que escrevem antes de nós não são senhores, mas guias. A verdade está aberta
a todos, ela ainda não foi inteiramente possuída”. Ainda segundo Gilbert: “escrevo, somente para vós, homem sem ideias
preconcebidas, que sabeis verdadeiramente filosofar, que procurais a ciência,
não apenas nos livros, mas nas próprias coisas, é para vós que escrevi estes
princípios do magnetismo, oriundos de uma nova forma de filosofar”.[4] Charles Singer resume a redescoberta da sabedoria dos antigos: “a imitação ao invés da criação era a atitude
mental da maior parte dos eruditos do século XV”.
[1] LE GOFF, Jacques. Os
intelectuais na idade média. São Paulo:Brasiliense, 1989, p.25; JUNIOR, Hilário
Franco. A idade média nascimento do Ocidente. São Paulo:Brasiliense, 1986, p.
144; PERNOUD, Régine. Idade Média: o que não nos ensinaram, Rio de
Janeiro:Agir, 1994, p. 23
[2] JANOTTI, Aldo. Origens da Universidade, São Paulo: Edusp,1992, p.63
[3] VERGER, Jacques. Homens
e saber na idade média, Bauru:EDUSC, 1999, p. 51
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