quarta-feira, 18 de agosto de 2021

D. Dinis e a renovação cultural em Portugal

 

Luís de Albuquerque mostra que D. Dinis procurou impulsionar a marinha portuguesa e seguindo os passos da Galiza, Inglaterra, França e Aragão assina um acordo em 1317 que inclui a vinda técnicos genoveses sob a liderança do genovês Micer Manuel Pessanha/Pessagno que passa a ser o responsável pela organização da Marinha do rei de Portugal incluindo a construção naval tendo em vista a possibilidade de estender os combates do rei Português contra os mouros até a costa africana.[1] O trabalho de Pessagno junto com sua equipe de genoveses entendidos em arte de navegar contribui para o desenvikvimento da indústria marítima em Portugal contribuindo para inserção de Portugal na cultura europeia, da mesma forma que a fundação da Universidade de Lisboa em 1290 aponta no mesmo sentido.[2] Damião Perez contesta que tal acordo tivesse maior influência nos desenvolvimentos subsequentes portugueses, no entanto Sérgio Buarque de Holanda registra que ainda em 1444 é confirmado no cargo de almirante Lançarote Peçanha, neto de Carlos.[3] Uma bula do papa Bento XII de 1341 relaciona o contrato de 1317 com o projeto de combate contra os mouros na África. Os mouros tinham Ceuta como sua base de operação de suas atividades de pirataria no estreito de Gibraltar e na costa de Marrocos[4]. Ceuta era também um dos um dos portos terminais do comércio do ouro transaariano, no entanto Charles Boxer alerta que é possível que os portugueses não soubessem disso antes de sua conquista[5]. Luís de Albuquerque por sua vez mostra que os portugueses mantinham trocas comerciais com Ceuta de certo vulto antes da conquista[6]. Segundo Antonio Dias Farinha: “Os burgueses interessavam-se pelos contratos de abastecimento das diferentes praças, associando-se, se necessário, a comerciantes estrangeiros. Devemos insistir neste aspecto: o interesse pela África do Norte não se restringia à Coroa, aos grandes nobres ou à alta burguesia. Grande número de particulares, pequenos comerciantes, pescadores e artesãos mantinham relações privilegiadas com Marrocos. Eram homens comprometidos com o abastecimento em víveres, armas, materiais de construção e outros produtos necessários à vida naquelas fronteiras e ao provimento das armadas que ali se dirigiam”.[7]



[1] ALBUQUERQUE, Luís de. Introdução à história dos descobrimentos portugueses, Lisboa: Europa América, 1959, p 41

[2] JANOTTI, Aldo. Origens da Universidade, São Paulo: Edusp,1992, p.121

[3] HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visões do Paraíso, São Paulo: Brasiliense, 2000, p. 398

[4] LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 99, AQUINO, Fernando, Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.82

[5] BOXER, Charles. O império colonial português, Lisboa: Edições 70, 1969, p. 42

[6] ALBUQUERQUE, Luís de. Introdução à história dos descobrimentos, Lisboa:Europa América, 1959, p.78

[7] FARINHA, Antonio Dias. Os portugueses em Marrocos, Lisboa:Lazuli, 1999



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