Para o padre Gabriel Malagrida, que esteve em
missão no Maranhão e Bahia, o terremoto de Lisboa de 1755 fora um sinal da
indignação de Deus aos escândalos de desordens da Corte uma vez que nas cidades
vizinhas, onde a ruína não foi tão grande, “fizeram e ainda fazem maravilhas de
penitências, pés descalços, cruzes, açoites, jejuns a pão e água e outras
mortificações infinitas”.[1] Segundo
Malagrida em “O Juízo da verdadeira causa do terremoto que
padeceu a corte de Lisboa” a causa do terremoto “[…] não são Cometas; não são Estrelas; não são
vapores, ou exalações, não são Fenômenos, não são contingenciais ou causas
naturais; mas são unicamente os nossos intoleráveis pecados”. Como forma de apacar
a ira de Deus, Voltaire em Cândido publicado em 1759 relata a realização de um
ato da fé em Lisboa de modo a evitar a repetição do terremoto do 1755: “decidiu-se
na Universidade de Coimbra que o espetáculo de algumas pessoas queimadas aos
poucos na fogueira em uma grande cerimônia é o segredo infalível para impedir
que a terra trema”.[2] Essa
passagem, reproduzida por Fernando Cacciatore como histórica, na verdade é
trecho de uma estória ficcional do conto de Voltaire, ao contrário, houve uma
mobilização intensa para abrigo e assistência à população atingida.[3] Francisco
Bethencourt mostra que enquanto a média de processos por ano em Lisboa eram de
37 no período 1675-1750, este número cai à metade e chega a 18 entre 1751 e
1767, ou seja, após o terremoto o número de processos diminuiu[4]. Gabriel
Malagrida foi entregue ao tribunal do Santo Ofício de Lisboa acusado de heresia
e posteriormente condenado ao garrote e fogueira em 1761, no Rossio, a praça
principal de Lisboa.
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