segunda-feira, 9 de agosto de 2021

O papel das mulheres na sociedade tupinambá

 

Na cultura tupi o trabalho com a terra era tarefa das mulheres.[1] Entre os tapuias as mulheres se encarregavam da agricultura.[2] Entre os índios tupi guarani o tipiti era uma espécie de prensa ou espremedor de palha trançada usado para escorrer e secar raízes, normalmente mandioca. Na prensagem da massa da mandioca escorria um líquido que continha uma substância venenosa, o ácido cianídrico, e era chamado maniaca. Quando ele era fervido, recebia o nome de tucupi.[3] Ao organizar suas caçadas os portugueses observaram que os índios usavam uma formação características ao percorrer a floresta a qual ficou conhecida como fila indiana, numa estratégia em que as pegadas de um índio eram seguidas pelos demais deixavam desta forma o mínimo de rastro.[4] Hans Staden narra que as mulheres indígenas trabalhavam mais que os homens cabendo-lhes as tarefas de preparo da comida, fabricação de bebidas, vasilhames, redes, o cuidado das crianças, da plantação de mandioca e milho bem como a tecelagem[5]. Os homens tupinambás teciam redes para captura de inimigos e para a pesca bem como confeccionavam cestos de folhas de palmeiras enquanto as mulheres trabalhavam com a fiação de algodão, tecelagem de redes e fabricação de cestos trançados e junco e vime além de preparação de potes e vasilhas de barro.[6] No século XVI Jean Lery destaca que a tarefa de fiar e tecer era própria para as mulheres, bem como eram hábeis oleiras.[7] Fiar e tecer a partir da fibra do algodão são ofícios das mulheres índias, com que eram preparadas cordas grossas para as redes como tecidos delicados como um colete que Lery levou para França e aqui foi tomado por seda. As mulheres tupinambás trabalhavam também como oleiras. Os vasos de barro eram secados ao sol e depois cobertos com casca de árvore a que punham fogo de modo a cozê-lo de forma suficiente. Também faziam cestos tecidos de junco ou de palha.[8] Segundo Thevet, “as mulheres plantam o milho indígena e certas raízes chamadas etique (batata-doce), escavando com o dedo uma cova, como se usa entre nós quando plantamos ervilhas e favas”.[9] Na sociedade polígama tupinambás descrita por Florestan Fernandes (na figura) a figura feminina era subserviente ao homem. Ao analisar as regras que orientavam o casamento, uma das mais importantes instituições dos tupinambás, Azevedo Fernandes[10] contestou tal perspectiva, nas medida em que as mulheres tinham um papel central na escolha dos genro, aquele se tornaria o guerreio da tribo. A participação das mulheres eram também central em outras atividades fundamentais para a tribo como nas  atividades agrícolas, no preparo dos alimentos, confecção de potes de cerâmica e pela produção do cauim, bebida fermentada à base de mandioca, fundamental para as práticas rituais indígenas. [11]



[1] SILVA, Rafael Freitas. O Rio antes do Rio. Rio de Janeiro:Babilônia, 2015, p. 316

[2] SOUTHEY, Roberto. História do Brazil, Rio de Janeiro:Garnier, 1862, v.II, p.44

[3] IBGE, Tipos e aspectos do Brasil, Rio de Janeiro:IBGE, 1975, p.158; SARTON, George. Ancient Science Through the Golden Age of Greece, New York:Dover, 1980, p. 5. https://pt.wikipedia.org/wiki/Tipiti

[4] PIMENTA, Reinaldo. A casa da mãe Joana. Rio de Janeiro: Campus, 2002, p. 95

[5] AGUIAR, Luiz Antonio. Hans Staden: viagens e aventuras no Brasil. São Paulo: Melhoramento, 1988, p. 54; RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1979, p.14

[6] SILVA, Rafael Freitas. O Rio antes do Rio. Rio de Janeiro:Babilônia, 2015, p. 40

[7] SOUTHEY, Robert. História do Brasil, Brasília: Melhoramentos, 1977, v.1, p. 184

[8] SOUTHEY, Robert. Historia do Brasil, v. I. Rio de Janeiro:Garnier, 1862, p. 343

[9] THEVET, André. Singularidades da França Antártica a que outros chamam de América. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944. p. 217. (Coleção Brasiliana). Cf. MIRANDA. Carlos Alberto Cunha. A arte de curar nos tempos da colônia. Recife:UFPE, 2017, p.209

[10] FERNANDES, João Azevedo. De cunhã a mameluca: a mulher Tupinambá e o nascimento do Brasil. João Pessoa: Editora Universitária UFPB, 2003.

[11] SANTOS, Georgina. Papéis passados: a história das mulheres a partir da documentação arquivística, 2020 Papéis passados: a história das mulheres a partir da documentação arquivística



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