sexta-feira, 6 de agosto de 2021

O Infante Santo D. Fernando

 

Keila Araújo[1] mostra como a tomada de Ceuta de 1415 foi descrita de forma laudatória pelo cronista-mor do reino, Gomes Eanes de Zurara, na década 1450, pelo rei D. Afonso V na obra Cronica da Tomada de Ceuta por el rei D. João I contribuindo para a construção da identidade nacional portuguesa. Faria de Souza por sua vez ao escrever no período da União Ibérica (1580-1640) creditou o esforço marítimo do empreendimento a D. Henrique ao invés da Coroa portuguesa. Em 1437 uma campanha mal sucedida em Tanger no norte da Africa levou a uma rendição pela qual as forças portuguesas se retiraram, deixando o infante D. Fernando, irmão de D. Henrique, como preço da liberdade para o exército e penhor da devolução de Ceuta (conquistada pelos portugueses em 1415). D. Henrique retornara à Portugal deixando o irmão preso, recusando-se a entregar Ceuta[2]. D. Fernando acaba morrendo no cativeiro em 1443, de tal modo que, pelo seu sacrifício em nome dos interesses nacionais, viria a ganhar o epíteto de Infante Santo. Nas palavras de Oliveira Martins: “O pobre infante é o primeiro mártir da nossa epopeia, e se nos honramos do muito que fizemos, é agora o momento de deixar aqui uma lágrima de saudade e pena por esse infeliz precursor do nosso império!”.[3] O infante d. Fernando, irmão de D. Henrique, tornou-se objeto de culto em especial entre os dominicanos no mosteiro da Batalha, ao ponto do bispo de Leiria D. Martim Afonso Mexia (1605-1615) proibir as festas em sua homenagem uma vez que a bula Coelestis Hierusalem do papa Urbano VIII de 1634 proibia o culto de pessoas que não tivessem sido beatificadas pela igreja, a não ser que se provasse um culto imemorial.  O cronista frei João Alvares (1406-1490), por sua vez, absolveu D. Henrique de qualquer culpa pelo destino trágico do irmão.



[1] ARAÚJO, Keila. A Construção e desconstrução de um símbolo: leituras sobre a conquista de Ceuta, Historia & Parcerias, ANPUH, 2019, https://www.historiaeparcerias2019.rj.anpuh.org/anais/trabalhos/apresentacaoemst#K

[2] MARTINS, Oliveira. História de Portugal, Lisboa:Versial, 2010, p. 139 Edições Kindle

[3] MARTINS, Oliveira. História de Portugal, Lisboa:Versial, 2010, p. 140 Edições Kindle



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