sexta-feira, 6 de agosto de 2021

A reforma na Universidade de Coimbra e os impactos no Brasil

 

A renovação cultural promovida pelo marquês de Pombal permitiu a maior penetração das teses iluministas em Portugal apesar de seu governo despótico. Em 1746 Luis Verney havia publicado um libelo contra o ensino jesuítico em Verdadeiro método de estudar, e em 1760 Antonio Ribeiro Sanches publicara Cartas sobre a educação da mocidade e Apontamentos para fundar-se uma universidade real em que sugere: “Parece que satisfariam ao último fim que deve ter a Universidade que vou propondo, os três Colégios seguintes. O primeiro de Filosofia, Matemáticas e Humanidades. Segundo de Medicina, e Cirurgia, e de todas as partes de que consta esta Ciência. O terceiro da Jurisprudência, governo dos Estados, e Leis do Reino”.[1] Em 1761 o então conde de Oerias, futuro marquês de Pombal, ministro do rei D. José fundou o Real Colégio dos Nobres. Em 1765 foi concedido e doado ao Colégio dos Nobres o privilégio exclusivo para a impressão dos livros de Euclides, de Arquimedes, e de outros clássicos das ciências matemáticas. Este privilégio foi transferido para a Universidade de Coimbra pelo alvará de 16 de dezembro de 1773. Os novos estatutos da Universidade de Coimbra em 1772 foram organizados pela Junta de Providência Literária da qual faziam parte o cardeal da Cunha, o bispo Cenáculo, o brasileiro D. Francisco de Lemos Faria, conde Argonil, que foi também bispo de Coimbra de 1779 a 1822 e reitor da Universidade de Coimbra de 1770 a 1779, e seu irmão Ramos de Azeredo Coutinho e outros[2]. Eles criaram as faculdades de matemática e filosofia natural dotada de observatório astronômico, laboratórios de química e física e jardim botânico. Com os novos estatutos de Coimbra em 1772 foram abolidos os estudos matemáticos professados no Real Colégio dos Nobres.[3] Entre os estrangeiros convidados a participar da reforma da Universidade de Coimbra destacam-se o naturalista italiano Domingos / Domenico Vandelli onde foi nomeado lente de Química e de História Natural assim como responsável pela seleção do local da implantação do Jardim Botânico, e pelo estabelecimento do Laboratório Químico e do Museu de História Natural da Universidade de Coimbra. Vandelli dirigiu as expedições filosóficas (hoje diríamos científicas) portuguesas de finais do século XVIII, levadas a cabo pelo naturalista baiano Alexandre Rodrigues Ferreira entre 1783 e 1792 que havia sido seu aluno na Universidade de Coimbra. Outros professores estrangeiro incluem o matemático e engenheiro italiano Miguel Antonio Ciera e Giovanni Antonio Dalla Bella da cadeira de Física Experimental. [4] Dessa mesma época surgem no Rio de Janeiro e Salvador três academias: a Academia dos Seletos de 1752 em homenagem a Gomes Freire de Andrade; a Academia dos Renascidos, na Bahia de 1759 e a Academia Científica de 1772 instalada por José Henriques Ferreira para estudos em agricultura e fomento às indústrias agropecuárias sob o governo no vice rei segundo marquês de Lavradio.[5]

[1] http://www.estudosjudaicos.ubi.pt/rsanches_obras/aponts_universidade_reino_conveniente.pdf

[2] MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo: Queiroz Editor, 1992, p.446

[3] https://www.arqnet.pt/dicionario/rcolnob.html

[4] GARCIA, Fernando Cacciatore. Como escrever a história do Brasil, Porto Alegre: Sulina, 2014, p. 416

[5] VIANNA, Helio. História do Brasil, primeira parte, período colonial. São Paulo: Melhoramentos, 1972, p.333



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