domingo, 1 de agosto de 2021

Bibliotecas coloniais

 

A biblioteca do Colégio do Maranhão no século XVII era citada pelo padre Antonio Vieira como “muito boa” tendo cerca de cinco mil livros. Serafim Leite estima em doze mil os livros dos jesuítas no Maranhão e Grão Pará na época de sua expulsão em 1759. A do Colégio da Bahia tinha cerca de quinze mil livros e a do Rio de Janeiro no morro do Castelo cerca de cinco mil livros por volta de 1760 quando da expulsão dos jesuítas, servindo até então não apenas aos estudantes, mas ao público em geral constituindo-se na primeira biblioteca pública do Rio de Janeiro[1] Apenas quinze anos depois, um total de 734 livros já se revelavam imprestáveis diante do abandono que se seguiu[2]. Os elementos remanescentes do antigo colégio do Morro do Castelo se encontram atualmente no Colégio Santo Inácio, no bairro de Botafogo. A livraria do Mosteiro dos Beneditinos em São Paulo foi organizada em 1766 pelo frei Gaspar da Madre de Deus contendo cerca de três mil volumes.[3] Charmot observa que nos colégios jesuítas, segundo a Ratio studiorum, se fala em “cultura integral” não no sentido de ensino as matéria e de toda a ciência mas em um ensino literário e científico que não fosse puramente profano: “o ensino das ciências profanas era orientado pelo princípio de que o religioso as ministra não por elas mesmas, mas somente em vista de promover a maior glória de Deus”.[4] Em São Paulo a primeira Biblioteca pública seria instalada em 1825 no convento dos franciscanos com a doação dos livros do bispo D. Mateus de Abreu Pereira. Em 1836 o engenheiro Daniel Pedro Muller registra  mais de seis mil livros na biblioteca, já anexada à Academia de Direito do largo de São Francisco inaugurada em 1828. Kidder em 1839 que registra que muitos destes livros, a grande maioria de teologia, jamais haviam sido lidos  “e certamente jamais o serão”. [5] Luiz Carlos Villalta (figura) destaca que no século XVIII ainda predominava uma cultural da oralidade que permeava as formas de comunicação tanto no público como no privado, inclusive com a leitura de livros: “a posse, a leitura e a escritura dos livros, ao mesmo tempo, estiveram recortadas pela civilidade das aparências e por interdições e privilégios enraizados da sociedade estamental e no absolutismo”. [6]



[1] MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 340; NONATO, José Antonio; SANTOS, Nubia Melhem. Era uma vez o moroo do Castelo, Rio de Janeiro: IPHAN, 2000, p. 33

[2] MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 421

[3] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.II, São Paulo: Globo, 2021. p.101

[4] MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 356

[5] TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 337

[6] NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil , v.1, São Paulo:Companhia das Letras, 2018. Edição do Kindle, p.284




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