sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Academia de Belas Artes: construção de um edifício sem alicerces

 

Segundo Maria de Lourdes Fávero “em matéria de ensino as diretrizes emanadas da Corte eram feitas como se visassem a estabelecer a rotina; paralisar as iniciativas, em vez de estimulá-las”.[1] Mesmo após a independência esta condição de atraso na educação se prolongou de modo que ao final do Império em 1879 o Brasil tinha seis instituições de ensino superior sendo que nenhuma universidade, ou seja, as Faculdades de Direito de São Paulo e do Recife; as Faculdades de Medicina do Ru de Janeiro e da Bahia; a Escola Politécnica do Rio de Janeiro e a Escola de Minas de Ouro Preto. Em 1768 um pedido da Câmara de Sabará para criação de um aula de cirurgia teve o pedido negado.[2] Os inconfidentes mineiros em seu movimento de 1789 tinham como uma de suas propostas a criação da Universidade de Vila Rica.[3] Na vinda da família real em 1808 D. João VI incumbiu José Bonifácio para ser diretor de uma universidade a ser criada, mas a o projeto não foi afrente por oposição dos ministros portugueses que receavam desaparecesse uma das principais bases em que se assentava a superioridade da metrópole[4].  Em compensação foi criada a Academia de Belas Artes organizada com artistas franceses sob a orientação de Lebreton que chegou em 1816 e denominada inicialmente como Escola de Ciências, Artes e Ofícios. O grupo reunia o pintor Debret, Nicolas Taunay e seu irmão o escultor Augusto Taunay e seu assistente François Bonrepos, o arquiteto Grandjean de Montigny, o professor de mecânica François Ovide e o gravador em talha Simon Pradier.[5] Maler chegou a conjecturar que tantos artistas teriam vindo como exílio para fugir ao governo de Napoleão, ,as o próprio Ministério de Estrangeiro negou essa conjectura. Oliveira Lima aponta a incongruência da medida pois o Brasil estava muito mais necessitado de um ensino industrial do que artístico: “as belas artes necessitam apoiar-se sobre as artes mecânicas, quando não o edifício fica sem alicerces: não se pode iniciar uma construção pela cumeeira”. A Escola contudo somente seria aberta em 1826 diante da turbulência política que se seguiu à independência.



[1] FÁVERO, Maria de Lourdes. Universidade do Brasil das origens à construção. Rio de Janeiro:UFRJ, 2000, p.9, 24

[2] NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil , v.1, São Paulo:Companhia das Letras, 2018. Edição do Kindle, p.256

[3] CALMON, Pedro. História da civilização brasileira, Brasília: Senado Federal, 2002, p. 160; GOMES, Laurentino. Escravidão, v.II, São Paulo: Globo, 2021. p.294

[4] LIMA, Oliveira. D. João VI no Brasil, 2021, Edições Kindle, p.2350/14482

[5] LIMA, Oliveira. D. João VI no Brasil, 2021, Edições Kindle, p.2374/14482



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