Mesmo no
tempo de Afonso III tanto nos contratos como nos testemunhos da Inquisição raros
eram os documentos assinados, e mesmo em 1434 D. Duarte emite norma em que
exige que para ser juiz seria necessário saber ler e escrever, mas apenas para
cidade e vilas com mais de 400 habitantes, o que revela o algo índice de anafalbetismo,
mesmo entre membros do clero. [1] Um sinal
da fraqueza cultural da universidade portuguesa foram suas constantes mudanças
de 1290 a 1308 esteve em Lisboa; de 1308 a 1338 em Coimbra; de 1338 a 1354
voltou a Lisboa; de 1354 a 1377 novamente em Coimbra, de 1377 a 1537 em Lisboa,
e de 1537 em diante em Coimbra (na figura), o que evidencia que a universidade era
considerada como um órgão de Estado anexo da Corte, em um embate que Aldo
Janotti atribui a perspectiva cosmopolita e europeia de Lisboa contra a
perspectiva rural e arcaísta da pequena cidade de Coimbra. Charles Boxer
observa que nem todas as universidades eram reconhecidas dentro dos padrões
desejados. O papa Nicolau IV proibiu o ensino de teologia na universidade de
Lisboa ainda que a proibição não tivesse sido estritamente observada. Aldo
Janotti conclui que “no início das grandes descobertas, no limiar da idade
moderna, não possuía uma escola digna das aspirações culturais do Renascimento.
Dessa forma, a universidade pouco contribuiu, ou melhor, nada contribuiu para a
integração de Portugal no quadro da cultura europeia”.[2] Oliveira
Marques, por sua vez, observa o intercâmbio da universidade de Lisboa com
intelectuais estrangeiros e a ascenção do idioma português tendo sido no final
do século XIII oficialmente adotado como língua escrita do país, substituindo o
latim. [3] Em 1380
o papa Clemente VII negou aos teólogos formados em Lisboa a licença habitual
para ensino em qualquer lugar (facultas ubique docendi), de modo que os
frades mais promissores eram enviados para Oxford e Paris para por lá se
formarem.[4] Charles
Haskins[5] mostra
que ao contrário do que se imagina havia relativamente poucos estudantes de
teologia nas universidades medievais pois somente após a Contra Reforma a
Igreja passou a recomendar um treinamento teológico para o sacerdócio.
[1] JANOTTI, Aldo. Origens da Universidade, São Paulo: Edusp,1992, p.207
[2] JANOTTI, Aldo. Origens da Universidade, São Paulo: Edusp,1992, p.217
[3] MARQUES, Oliveira.
Brevíssima história de Portugal, Rio de Janeiro: Tinta da China, 2016, p. 42
[4] BOXER, Charles. O
império colonial português, Lisboa: Edições 70, 1969, p. 30
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