quinta-feira, 19 de agosto de 2021

A Universidade em Portugal no tempo dos decobrimentos

 

Mesmo no tempo de Afonso III tanto nos contratos como nos testemunhos da Inquisição raros eram os documentos assinados, e mesmo em 1434 D. Duarte emite norma em que exige que para ser juiz seria necessário saber ler e escrever, mas apenas para cidade e vilas com mais de 400 habitantes, o que revela o algo índice de anafalbetismo, mesmo entre membros do clero. [1] Um sinal da fraqueza cultural da universidade portuguesa foram suas constantes mudanças de 1290 a 1308 esteve em Lisboa; de 1308 a 1338 em Coimbra; de 1338 a 1354 voltou a Lisboa; de 1354 a 1377 novamente em Coimbra, de 1377 a 1537 em Lisboa, e de 1537 em diante em Coimbra (na figura), o que evidencia que a universidade era considerada como um órgão de Estado anexo da Corte, em um embate que Aldo Janotti atribui a perspectiva cosmopolita e europeia de Lisboa contra a perspectiva rural e arcaísta da pequena cidade de Coimbra. Charles Boxer observa que nem todas as universidades eram reconhecidas dentro dos padrões desejados. O papa Nicolau IV proibiu o ensino de teologia na universidade de Lisboa ainda que a proibição não tivesse sido estritamente observada. Aldo Janotti conclui que “no início das grandes descobertas, no limiar da idade moderna, não possuía uma escola digna das aspirações culturais do Renascimento. Dessa forma, a universidade pouco contribuiu, ou melhor, nada contribuiu para a integração de Portugal no quadro da cultura europeia”.[2] Oliveira Marques, por sua vez, observa o intercâmbio da universidade de Lisboa com intelectuais estrangeiros e a ascenção do idioma português tendo sido no final do século XIII oficialmente adotado como língua escrita do país, substituindo o latim. [3] Em 1380 o papa Clemente VII negou aos teólogos formados em Lisboa a licença habitual para ensino em qualquer lugar (facultas ubique docendi), de modo que os frades mais promissores eram enviados para Oxford e Paris para por lá se formarem.[4] Charles Haskins[5] mostra que ao contrário do que se imagina havia relativamente poucos estudantes de teologia nas universidades medievais pois somente após a Contra Reforma a Igreja passou a recomendar um treinamento teológico para o sacerdócio.



[1] JANOTTI, Aldo. Origens da Universidade, São Paulo: Edusp,1992, p.207

[2] JANOTTI, Aldo. Origens da Universidade, São Paulo: Edusp,1992, p.217

[3] MARQUES, Oliveira. Brevíssima história de Portugal, Rio de Janeiro: Tinta da China, 2016, p. 42

[4] BOXER, Charles. O império colonial português, Lisboa: Edições 70, 1969, p. 30

[5] HASKINS, Charles. A ascenção das universidades, São Paulo: Danúbio, 2015, p.654/1743







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