Na época da invasão holandesa (1624-1654) a Coroa Portuguesa, sem opção, permitiu o comércio direto de traficantes brasileiros com angolanos, usando como moeda de troca produtos produzidos localmente como aguardente, tabaco e búzios, rompendo desta forma o fluxo de comércio triangular que predominava até então. A Companhia das Índias Ocidentais holandesa havia conquistado Senegal em 1617, Cabo Verde e a Costa do Ouro em 1624, Angola em 1641 e o Castelo de São Jorge da Mina em 1673 encerrando desta forma a hegemonia luso espanhola no comércio de escravos. Com a restauração em 1640 conseguiu recuperar alguns destes postos de tráfico de escravos, mas sua posição já não era a mesma de antes. O número de navios que saíam do Brasil e traficavam diretamente com a África aumentou de 11 em 1681-1685 para 60 em 1696-1700.[1] As autoridades portuguesas limitara este comércio direto em 1698 a quatro mil arrobas anuais de fumo e só admitiam o envio de produto de baixa qualidade, contudo, a pressão dos comerciantes da Bahia conseguiu que em 1730 fossem exportadas 95 mil arrobas. Na Bahia haviam várias fábricas de fumo em pó ou “casas de pisar tabaco”. Russell Wood mostra que uma proposta de comércio direto entre os mercadores baianos e a Índia em 1700 foi bem recebida em Goa. No século XVIII verificou-se a presença de embarcações que saíam da Ásia para o Brasil e que retornavam à Ásia ao invés de seguirem para Lisboa, em espacial após 1775 com o fim do monopólio português do fumo, que incentivou os comerciantes baianos a comerciarem diretamente do Brasil para a Índia, se estabelecendo desde então um comércio intenso entre as duas regiões.[2] Segundo Pierre Verger: “graças ao fumo, os negociantes da Bahia criaram um movimento comercial importante que, desde o começo do século XVIII, escapava ao controle de Lisboa”.[3] Segundo Jean Baptiste Nardi: “o comércio de fumo para a compra de escravos na África – ou escambo – constitui a grande originalidade do fumo no período colonial. Não somente porque foi o único gênero colonial a ser utilizado no tráfico (com tal importância) como também pelo fato de que representava uma condição sui generis dentro dos quadros do antigo sistema colonial, ou seja, um comércio quase independente da metrópole”.[4] Jean Baptista Nardi aponta a indústria do fumo como contribuindo para desvincular a economia da colônia com a da metrópole muito antes da crise do sistema colonial e para a manifestação da crescente nacionalidade brasileira. A técnica de cultivo, no início, foi copiada dos índios. Depois da colheita as folhas já curadas tinham de ser torcidas e enroladas em cordas, tarefa penosa reservada a escravos. [5]
[1] NARDI, Jean Baptiste. O fumo no Brasil colônia. Tudo é história, São Paulo:
Brasiliense, 1987, n.121, p.55
[2] RUSSELL WOOD, A.
Histórias do Atlântico português, São Paulo: UNESP, 2021, p. 219
[3] FLORENTINO, Manolo. Em
costas negras, São Paulo: UNESP, 2014, p. 118
[4] NARDI, Jean Baptiste. O fumo no Brasil colônia. Tudo é história, São Paulo:
Brasiliense, 1987, n.121, p.51
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