quinta-feira, 26 de agosto de 2021

A navegação de altura: invenção dos portugueses no século XV

 

É inegável a contribuição dos portugueses no conhecimento baseado no experimentalismo e a compilação dos conhecimentos em navegação e cartografia numa época em que tais registros estavam impregnados de registros fantasiosos. Segundo Luis Albuquerque: “os dois métodos astronômicos para determinação da latitude baseado no cálculo das alturas meridiana de uma estrela ou do Sol provinham direta ou indiretamente de obras que serviram de instrução os astrólogos dos séculos IX e XIII [...] No entanto o fato das navegações terem, por um lado imposto uma revisão ou uma simplificação de tais processos mostra por outro lado a utilização prática de noções que durante séculos  apenas se utilizavam das práticas secretas da astrologia é já uma razão para explicar como a náutica astronômica pôde  ser, como na verdade foi, um fator de progresso para a astronomia de posição [...] Não é menos importante salientar que a prática de uma navegação astronômica, bem como a necessidade de serem observadas as condições físicas da atmosfera e dos mares ajudou a criar um clima propício para o surto de um experimentalismo que veio a dar no concurso do século XVI alguns dos frutos mais sazonados da ciência portuguesa”. Em 1484 o rei João II de Portugal indicou uma comissão de matemáticos para elaborar tabelas de declinação do sol a ser usada no mar em conjunto com astrolábios e quadrantes para se determinar a altura do sol ao meio dia e assim, pela consulta às tabelas se avaliar a latitude[1]. Luís de Albuquerque mostra que não há qualquer evidência do uso de navegação astronômica no Mediterrâneo no século XIV. Este foi um aperfeiçoamento dos navegadores portugueses[2] como se observa no Livro de Marinharia de João de Castro de 1516.[3] Antonio Barbosa [4] da mesma forma argumenta ser totalmente falsa a tese da origem e uso da navegação astronômica no Mediterrâneo antes da navegação de altura dos navegadores portugueses no Atlântico.



[1] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and water wheel, New York:Harper Collins, 1994, p.278

[2] ALBUQUERQUE, Luis. Introdução a história das descobertas portuguesas, Lisboa:Europa América, 1959, p. 51

[3] ALBUQUERQUE, Luís de. Introdução à história dos descobrimentos portugueses, Lisboa: Europa América, 1959, p 264

[4] António Barbosa - Novos subsídios para a história da ciência náutica portuguesa da época dos descobrimentos. (Memória apresentada no I Congresso da História da Expansão Portuguesa no Mundo, Lisboa, 1937) In: BAIÃO, Antonio. História da expansão portuguesa no mundo. Lisboa:Editorial, Atica, 1937, p.232



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