sábado, 7 de agosto de 2021

A Junta de Matemáticos

 

Barros mostra que quando Colombo apresentou seus planos ao rei de Portugal d. João II em 1483 este o encaminhou ao bispo Diogo Ortiz e aos mestres Rodrigo e José “a quem ele cometia essas coisas de cosmografia e seus descobrimentos”. Pero da Covilha contou ao padre Francisco Alvares que em sua viagem de 1487 lhe apresentaram uma carta de marear elaborada na casa de Pero de Alcaçova, Diogo Ortiz de Villeva nascido em Castela e graduado pela Universidade de Salamanca, o mestre Rodrigo das Pedras Negras e Mestre Moysés (o seu nome judeu) também conhecido como José Vizinho cristão-novo natural da Covilhã, formado em Medicina em Salamanca. Admite-se que José Vizinho tenha inspirado os mais antigos regimentos náuticos portugueses conhecidos: o regimento de Munique e o regimento de Évora. A partir destas referências Stockler em 1819 conclui que havia uma Junta de Matemáticos entendida não como uma reunião ocasional de especialistas em cosmografia e navegação, mas uma verdadeira Academia a auxiliar a Coroa portuguesa nesses assuntos. Entre estes especialistas havia também o cosmógrafo alemão Martin Behaim (figura) (Martinho da Boémia) construtor do famoso globo de Nuremberg que mostrava o Atlântico entre a Espanha e a China sem a representação da América e que foi completado em 1492 após as viagens de Colombo. Martin Behain era discípulo de Regiomontanus / João Monte Régio que em Viena estudara astronomia com Purbach, e era presumível agente do Imperador Maximiliano I, primo e amigo de João II, que terá acompanhado a viagem de Diogo Cão (1485-86). Esta Junta de matemáticos foi responsável pela elaboração das tábuas da declinação do Sol que permitiu a navegação am alto mar.[1] Outro célebre cosmógrafo do grupo era o judeu espanhol Abrãao Zacuto / Zagut, professor da Universidade de Salamanca, autor do Almanach perpetuum celestium motuum impresso em Veneza em 1472, traduzido para o português por José Vizinho e usado por Colombo e Fernando de Magalhães em suas viagens.[2] Luis Albuquerque mostra que embora o livro tenha sido editado em Leiria em 1496, a obra já circulava de forma manuscrita  muitos anos antes, pois as tábuas indicadas mostram medições a partir de 1473.[3] Abrãao Zacuto se refugiou em Portugal após a expulsão dos judeus de Castela, em 1492 pelo decreto de Alhambra assinado pelos reis espanhois católicos Isabela de Castela e Fernando de Aragão. A repressão, contudo, atingiria Portugal já em 1497 com o decreto de 30 de maio de 1497 que proibia a posse de livros hebraicos o que levou a consequente fuga dos tipógrafos judeus. Em 1500 Torquemada na Espanha irá queimar seis mil volumes heréticos acusados de bruxaria e judaísmo.[4]

[1] MARTINS, Oliveira. História de Portugal, Lisboa: Versial, 2010, p.152. Edição do Kindle.

[2] MOURÃO, Rogério. Dicionário de astronomia e aeronáutica, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p.877

[3] ALBUQUERQUE, Luís de. Ciência e experiência nos descobrimentos portugueses, Lisboa: Biblioteca Breve, 1983, p. 54

[4] MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 85



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