quarta-feira, 25 de agosto de 2021

A influência de Roger Bacon em Colombo

 

Ptolomeu rejeitara o cálculo de Eratóstenes (que havia morrido em 194)[1] de aproximadamente 40 mil km para a circunferência da terra considerando que cada grau mediria apenas 90 km ao invés de 112 km (total de 360 graus). Posteriormente reduziu ainda mais esta estimativa adotando os cálculos de Posidônio (135 a.c. – 51 a.c.) e Estrabão de que a terra tinha 28.960 km de circunferência.[2] Pelas estimativas de Ptolomeu a Ásia estaria a 7500 milhas de distância da Espanha.[3] Cristóvão Colombo teve acesso ao livro Imago mundi do bispo de Cambrai Pierre d’Ailly escrito em 1410 durante o domínio do antipapa Benedito XIV. Neste livro é adotada uma medida da circunferência terrestre ainda menor que a adotada por Ptolomeu, o que fez o navegador acreditar que a chegada às Índias pelo Ocidente através do mar seria um empreendimento viável[4]. Segundo o Imago mundi: “é evidente que este mar [da Espanha à Índia indo pelo ocidente] é navegável em muito poucos dias se o vento for bom”.[5] No Tableau du Monde de Pierre d’Ailly escrito em 1410 são citados trechos de Aristóteles, Sêneca e Plínio que falam da possibilidade de navegação entre a costa oeste da Espanha e a Arábia e Índia. O trecho de Imago Mundi de Pierre d´Ailly que diz que o oceano entre o oeste da Europa e o leste da Ásia não poderia ser tão extenso e bravio, foi copiado quase que literalmente o trecho da obra Opus Majus escrita em 1269 por Roger Bacon. No Opus majus, Bacon afirmou a possibilidade de viajar por mar da Espanha para a Índia. Na quarta parte da Opus Majus Bacon analisa a Geografia de Ptolomeu e avalia o equador em 56 milhas e dois terços, o que o leva a avaliar a circunferência com um erro de apenas um catorze avos. Roger Bacon acredita que a grande massa de terra no hemisfério norte deve ser contrabalançada por um grande continente no hemisfério sul.[6] No século XIII dois navegadores genoveses, os irmãos Vivaldi, zarparam de Gênova para atingir a Índia pelo oceano.[7] Humboldt afirma que o livro de Pierre d’Aillly que cita esta passagem de Roger Bacon foi mais importante para convencer os reis Fernando e Isabel em financiar sua expedição à América do que as cartas de Toscanelli, embora Thornlike conteste que Colombo tenha lido este documento antes de sua viagem.[8] Daniel Boorstin relata que Colombo chegou a escrever à margem na sua cópia do Imago Mundi mencionando que estava presente quando Bartolomeu Dias se apresentou ao soberano português para anunciar o sucesso ao contornar a África.[9] Joseph Hoffner, contudo, atribui como certo que Colombo tinha conhecimento do mapa de Toscanellli[10]. Em uma carta de 25 de junho de 1474 dirigida ao cônego da Sé de Lisboa Fernão Martins, Toscanelli descreve que “É certo que muitos outros falaram do caminho mais curto que há daqui até as índias, onde existem as especiarias, pelo mar, mais curto que a via pela Guiné”.[11] Bartolomeu de Las Casas na Historia de las Indias (o manuscrito foi publicado apenas no século XIX) e o autor anônimo de Historie dell Ammiraglio reproduzem a carta de Toscabelli e atribuem uma influência decisiva sobre Colombo.[12] Carlos Malheiros contudo atribui a Colombo uma elevada dose de obstinação: “A sua capacidade de fé atinge os paramos do sublime ou do absurdo. Colombo não raciocina, não analisa. Crê. Para os nossos tempos céticos, esse último filho da Idade Média, contaminado pela ânsia de riquezas e de glórias, que caracteriza a autora da Renascença, é quase ininteligível. Uns querem que tenha sido um inspirado, outros um sábio, outros, ainda, um aventureiro, impelido e transfigurado por uma ambição formidável. Ele é consequência das circunstâncias, mas uma onsequência ativa, pois que a sua obstinação é prodigiosa”.[13]

[1] FINLEY, Moses. Los griegos de la antiguedad. Barcelona: Editorial Labor, 1966, p. 125

[2] BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.102

[3] RESTON,James. Os cães do Senhor. São Paulo: Record, 2008, p. 185

[4] COSTA, José Silveira da. A escolástica crsitã medieval, Rio de Janeiro, 1999, p.162

[5] BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.218; RESTON,James. Os cães do Senhor. São Paulo: Record, 2008, p. 141

[6] BAIÃO, Antonio. História da expansão portuguesa no mundo. Lisboa:Editorial, Atica, 1937, p.219

[7] GIMPEL, Jean. A revolução industrial da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1977, p.167

[8] GILLISPIE, Charles. Dicionário de biografias científicas, Rio de Janeiro:Contraponto, 2007, p. 188

[9] BOORSTIN, Daniel. Os descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.167

[10] HOFFNER, Joseph. Colonialismo e evangelho, São Paulo:USP, 1973, p.145

[11] RESTON,James. Os cães do Senhor. São Paulo: Record, 2008, p. 140

[12] VASCONCELLOS, Ernesto; GAMEIRO, Alfredo; MALHEIROS, Carlos. In: História da Colonização Portuguesa no Brasil, Edição Monumental Comemorativa do Centenário de Independência do Brasil, Porto, Litografia Nacional, 1921, Primeira Parte: O descobrimento, V.1 Os precursores de Cabral, p. LXIX

[13] VASCONCELLOS, Ernesto; GAMEIRO, Alfredo; MALHEIROS, Carlos. In: História da Colonização Portuguesa no Brasil, Edição Monumental Comemorativa do Centenário de Independência do Brasil, Porto, Litografia Nacional, 1921, Primeira Parte: O descobrimento, V.1 Os precursores de Cabral, p. LXXXVI



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