Ptolomeu rejeitara o cálculo de Eratóstenes (que havia
morrido em 194)[1] de aproximadamente 40 mil km para a circunferência da terra considerando que
cada grau mediria apenas 90 km ao invés de 112 km (total de 360 graus).
Posteriormente reduziu ainda mais esta estimativa adotando os cálculos de
Posidônio (135 a.c. – 51 a.c.) e Estrabão de que a terra tinha 28.960 km de
circunferência.[2] Pelas estimativas de Ptolomeu a Ásia estaria a 7500 milhas de distância da
Espanha.[3] Cristóvão
Colombo teve acesso ao livro Imago mundi
do bispo de Cambrai Pierre d’Ailly escrito em 1410 durante o domínio do
antipapa Benedito XIV. Neste livro é adotada uma medida da circunferência
terrestre ainda menor que a adotada por Ptolomeu, o que fez o navegador
acreditar que a chegada às Índias pelo Ocidente através do mar seria um
empreendimento viável[4]. Segundo
o Imago mundi: “é evidente que este mar
[da Espanha à Índia indo pelo ocidente] é navegável em muito poucos dias se o
vento for bom”.[5] No Tableau du Monde de Pierre d’Ailly
escrito em 1410 são citados trechos de Aristóteles, Sêneca e Plínio que falam
da possibilidade de navegação entre a costa oeste da Espanha e a Arábia e
Índia. O trecho de Imago Mundi de Pierre d´Ailly que diz que o oceano
entre o oeste da Europa e o leste da Ásia não poderia ser tão extenso e bravio,
foi copiado quase que literalmente o trecho da obra Opus Majus escrita em 1269 por Roger Bacon. No Opus majus, Bacon afirmou a possibilidade de viajar por mar da
Espanha para a Índia. Na quarta parte da Opus Majus Bacon analisa a
Geografia de Ptolomeu e avalia o equador em 56 milhas e dois terços, o que o
leva a avaliar a circunferência com um erro de apenas um catorze avos. Roger Bacon
acredita que a grande massa de terra no hemisfério norte deve ser
contrabalançada por um grande continente no hemisfério sul.[6] No
século XIII dois navegadores genoveses, os irmãos Vivaldi, zarparam de Gênova
para atingir a Índia pelo oceano.[7] Humboldt
afirma que o livro de Pierre d’Aillly que cita esta passagem de Roger Bacon foi
mais importante para convencer os reis Fernando e Isabel em financiar sua
expedição à América do que as cartas de Toscanelli, embora Thornlike conteste
que Colombo tenha lido este documento antes de sua viagem.[8] Daniel
Boorstin relata que Colombo chegou a escrever à margem na sua cópia do Imago Mundi mencionando que estava
presente quando Bartolomeu Dias se apresentou ao soberano português para
anunciar o sucesso ao contornar a África.[9] Joseph
Hoffner, contudo, atribui como certo que Colombo tinha conhecimento do mapa de
Toscanellli[10].
Em uma carta de 25 de junho de 1474 dirigida ao cônego da Sé de Lisboa Fernão
Martins, Toscanelli descreve que “É certo
que muitos outros falaram do caminho mais curto que há daqui até as índias,
onde existem as especiarias, pelo mar, mais curto que a via pela Guiné”.[11] Bartolomeu de Las Casas na Historia de las Indias (o manuscrito foi publicado apenas no
século XIX) e o autor anônimo de Historie
dell Ammiraglio reproduzem a carta
de Toscabelli e atribuem uma influência decisiva sobre Colombo.[12] Carlos Malheiros contudo atribui a Colombo uma elevada dose de obstinação: “A sua capacidade de fé atinge os paramos do
sublime ou do absurdo. Colombo não raciocina, não analisa. Crê. Para os nossos
tempos céticos, esse último filho da Idade Média, contaminado pela ânsia de
riquezas e de glórias, que caracteriza a autora da Renascença, é quase
ininteligível. Uns querem que tenha sido um inspirado, outros um sábio, outros,
ainda, um aventureiro, impelido e transfigurado por uma ambição formidável. Ele
é consequência das circunstâncias, mas uma onsequência ativa, pois que a sua
obstinação é prodigiosa”.[13]
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