Antonio Baião mostra que os preparativos para tomada de Ceuta começaram já em 1412.[1] Da frota portuguesa que partiu do Porto foi liderada pelo infante D. Henrique e a que partiu de Lisboa pelo infante D. João I e as galés que partiram do sul de Portugal foram lideradas por D. Pedro, em um total de 242 embarcações segundo Mateus Pisano. Charles Boxer a conquista de Ceuta, em 1415, foi mais representativa pela permanência dos lusitanos na região, do que propriamente pela conquista. A carta de Dulcert de 1339 se refere a presença de “ouro em abundância” na “terra dos negros” ao sul do Bojador próximo a Guiné.[2] Luís de Albuquerque mostra que antes da conquista da Guiné os portugueses já tinham conhecimento da existência de ouro na região tendo em vista que os arquivos medievais da Catalunha indicam que o cartógrafo maiorquino Jaime, citado por Duarte Pacheco Pereira teria vindo para Portugal a pedido do Infante D. Henrique antes da viagem a Guiné e que teria transmitido tais informações.[3] Para Russel Wood: “para os portugueses [do século XV], a Guiné estava associada ao ouro em pó”.[4] Foi somente em 1419 com a informação sobre a possibilidade de chegar as áreas produtoras de ouro, que teria animado a convocação de novas expedições. O eixo de interpretação passa a incluir a interação de interesses religiosos, sendo vista como uma cruzada contra os muçulmanos e uma busca ao reino do Preste João, e a possibilidade de ampliação de mercados. Segundo Oliveira Marques, os portugueses logo se deram conta que a tomada de Ceuta somente seria mantida se fossem capturadas outros territórios no Marrocos[5] muito embora o próprio infante D. Henrique nunca tenha viajado para parte alguma além de Marrocos.[6] Para Antonio Dias Farinha: “A expansão [com a tomada de Ceuta] é, antes de mais, a afirmação política do Reino no concerto das nações (traduzida no «senhor de Ceuta», a que depois se acrescentou «e de Alcácer Ceguer» e, mais tarde, «rei do Algarve Dalém-Mar em África»), em especial no contexto ibérico (a ameaça anexionista de Castela manter-se-ia no horizonte) e perante os Estados europeus interessados nas regiões do Sul; é também afirmação contra os Mouros (Salado não estava distante e havia que continuar a Reconquista) e, finalmente, resposta à ameaça turca, bem perigosa depois de 1453. A iniciativa portuguesa valeu também como antecipação ao «direito de conquista» das nações ibéricas sobre o reino de Fez, reconhecido por Castela pelo Tratado das Alcáçovas, em 1479. A expansão consagrou a legitimidade da dinastia de Avis no plano interno e o seu pleno reconhecimento na ordem internacional”. [7] D. Pedro, contudo, é contra a manutenção da conquista: “Ceuta é grande sumidouro de gente, de armas e de dinheiro; e os homens de autoridade de Inglaterra e desta Flandres já não falam na honra e boa fama que a sua conquista deu, mas sim no grande desacêrto que é conservá-la com tanta perda e prejuízo do país [...] Conquistar o reino de Fêz seria emprêsa difícil e de-pressa se perderia o seu fruto porque não há em Portugal gente e dinheiro para sustentar dois reinos; sustentar só os lugares da beira-mar era pior ainda, porque se não poderiam manter sem grande prejuízo e nenhum proveito” mas o rei D. Duarte decide em favor da corrente expansionista na conquista segundo orientação de D. João I que decide fazer a expedição de Tanger em 1437.[8]
[1] BAIÃO, Antonio. História da expansão portuguesa no mundo. Lisboa:Editorial,
Atica, 1937, p.131
[2] ALBUQUERQUE, Luis.
Introdução a história das descobertas portuguesas, Lisboa:Europa América, 1989,
p. 143
[3] ALBUQUERQUE, Luis.
Introdução a história das descobertas portuguesas, Lisboa:Europa América, 1989,
p. 150
[4] RUSSEL
WOOD, A. Histórias do Atlântico português, São Paulo: UNESP, 2021, p. 100
[5] MARQUES, Oliveira.
Brevíssima história de Portugal, Rio de Janeiro: Tinta da China, 2016, p. 37
[6] MARQUES, Oliveira.
Brevíssima história de Portugal, Rio de Janeiro: Tinta da China, 2016, p. 52
[7] FARINHA,
Antonio Dias. Os portugueses em Marrocos, Lisboa:Lazuli, 1999
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