Jacob Gorender mostra que o
Estado de Daomé na área do atual Benim (o grande império de Benim da época
colonial fica na atual Nigéria) surgiu por conta do desenvolvimento do comércio
negreiro no século XVII fundado no mopólio estatal.[1] A região litorânea em torno de Daomé era conhecida pelos europeus, o nome de
Costa dos Escravos. Foi do Porto de Uidá, o mais importante porto negreiro da
África Ocidental, que saiu mais de um milhão de escravos desde o século XVII. Para
garantir a obediência dos negros escravizados durante a viagem os traficantes
difundiam histórias de canibalismo contra os rebeldes nos tumbeiros. Na edição
de 4 de janeiro de 1839 o jornal abolicionista The Liberator se refere a um caso de canibalismo que teria ocorrido num navio
negreiro de 250 escravos.[2] A partir de aliança políticas e
comerciais e militar com as autoridades nativas africanas os portugueses
trocavam manufaturados europeus ou tabaco e aguardente vindos da América por
cativos capturados em constantes guerras tribais[3].
Na medida em que a comércio intenso de escravos se desenvolve, intensifica-se
cada vez mais as guerras intestinas na África para dar conta da demanda por
novos escravos.[4] O escravismo doméstico
tradicional cede lugar para as formas mercantis de escravidão.[5] A conquista de Uidá, Ajudá ou Ouidah porto pelo reino escravagista e expansionista do Daomé,
em 1727, viria a confirmar sua posição inicial de principal porto do tráfico
negreiro na região, situação que manteve, até meados do século XIX.[6] A feitoria da Ajuda foi fundada pelos portugueses em 1721. Em 1724 Adaja, reu
de Daomé, conquistou o reino de Aladá e se consolidou como um dos principais
fornecedores de cativos na costa da África. [7] A
fortaleza de São João Batista de Ajudá
construída pelos portugueses hoje abriga o Museu de História da Ajudá. No Museu
Nacional do Rio de Janeiro havia um zinkpo, também chamado trono real de Daomé,
dado de presente por embaixadores do rei Adandozan ao príncipe D. João em 1810
o que mostra as boas relações dos dois reinos.[8] Um grande traficante de escravos em Daomé foi Francisco Felix de Souza, o
Chachá, nascido na Bahia, a figura central do tráfico transatlântico de escravo. [9] Pierre Verger em seu livro “Os escravos” relata o caso do traficante de escravos Joaquim d’Almeida em Daomé que
havia sido no passado escravo na Bahia quando então tinha o nome de Gbego
Sokpa. Outro traficante de escravos que também havia sido escravo é João de
Oliveira que fundou dois entrepostos na Costa dos Escravos em Porto Novo no
Benim e outro em Lagos. O negro brasileiro Antonio Vaz Coelho no século XVIII
também se tornou traficante de escravos em Porto Novo. José Francisco dos Santos,
o Zé Alfaiate era escravo na Bahia e tornou-se um dos últimos traficantes do
porto de Ajuda no Daomé. [10] A comunidade dos agudás reunia os ex escravos que retornaram do Brasil.[11] Na Confederação ashanti o tráfico de escravos era tão central para a economia
que o rei Zey enviou em 1817 uma carta ao rei Jorge III da Inglaterra pedindo
que os ingleses reconsiderassem sua decisão de extinguir o tráfico negreiro
adotada em 1807.[12]
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