quinta-feira, 15 de julho de 2021

O lucro do tráfico sustentou a escravidão

 

Manolo Florentino argumenta que o grosso dos recursos auferidos pela Coroa vinha de impostos dos escravos importados da África, venda ou revenda de manufaturados europeus na colônia e em menor escala do tráfico de escravos, porém Manolo Florentino não inclui os impostos auferidos com o ouro e as rendas com o comércio de açúcar e café.[1] Entre alguns membros dessa elite na colônia que lucrava com o tráfico de escravos da África podemos destacar João Gomes Barrozo, Joaquim Antonio Ferreira, Francisco José da Rocha, Joaquim Pereira de Almeida, Amaro Velho da Silva, Fernando Carneiro Leão, Elias Antonio Lopes, José Francisco do Amaral, Francisco José Guimarães[2]. Manolo Florentino explica que o fato do lucro do tráfico de escravos africanos poder ser contabilizado pela metrópole foi um fator decisivo para a adoção da escravidão dos negros africanos ao invés de persistir na escravização indígena que, ademais, enfrentava a oposição jesuítica. Esta análise retoma as conclusões de Fernando Novais para o qual o sistema mercantilista de colonização ao optar pela escravização dos negros africanos buscou um sistema de relações que tendia a promover a acumulação primitiva na metrópole: “paradoxalmente, é a partir do tráfico negreiro que se pode entender a escravidão africana colonial, e não o contrário”. O lucrativo tráfico atlântico determinaria assim a escravidão africana no Brasil. Laurentino Gomes mostra que no início a atividade de tráfico era monopólio dos governos como a Royal African Company (RAC) da Inglaterra e a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais (WIC), no entanto, com tempo este negócio foi aberto para agentes privados. O parlamento britânico abriu essa possibilidade a partir de 1698, a França a partir de 1725 e a Holanda a partir de 1730. Portugal continuou com o monopólio do tráfico até o fracasso das duas companhias de comércio criadas por Pombal: a Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão criada em (1755-1775) para aumentar a produção de algodão e a Companhia Geral do Comércio Pernambuco e Paraíba (1759-1780) para aumentar a produção do açúcar[3].

[1] FLORENTINO, Manolo. Em costas negras, São Paulo: UNESP, 2014, p. 122

[2] FLORENTINO, Manolo. Em costas negras, São Paulo: UNESP, 2014, p. 194

[3] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.II, São Paulo: Globo, 2021. p.129



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