quinta-feira, 15 de julho de 2021

As marcas do tráfico

 

Entre os escravos, tidos como mercadorias, haviam diversas marcações como a do traficante, do comprador, da Corte portuguesa indicando que os impostos haviam sido pagos ou da Igreja indicando o batizado.[1] A filiação étnica dos escravos pode se evidenciar na presença de marcas no seu corpo, presentes em muitos escravos da nação iorubá, ao norte do Benim, conhecida na Bahia como nagô. Oyo foi um reino dos iorubas, povo africano que ainda habita a atual Nigéria e cujo anos de auge do poder foram, aproximadamente, de 1650 a 1750. Os aqueras tinham tatuagens de lagartos e serpentes no peito. Os aladás tinham incisões nas bochechas.[2] Na África tais escarificações eram feitas ainda quando crianças por especialistas devotos de Ogum, o patrono do ferro e da guerra, com intuito se integrar o indivíduo à sua comunidade, numa espécie de batismo sagrado. Entre os Ijebu estes especialistas eram conhecidos como alakila “o senhor da escarificação”. Nos relatos da devassa que debelou o levante Malê na Bahia de 1835 há diversas referências aos “sinais da nação” conhecidos com alabaja / abaja nos escravos presos.[3] O reverendo Samuel Johnson do século XIX registra marcas faciais nos nativos iorubás de diversas famílias.[4] Os nagôs traziam marcas em forma de raios na testa, os oiós raios que partiam dos olhos em direção às orelhas.[5]



[1] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.I, São Paulo: Globo, 2019. p.282

[2] GOMES, Laurentino. Escravidão v. II, Rio de Janeiro:GloboLivros, 2021, p. 146

[3] REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835, São Paulo: Cia das Letras, 2012, p. 312, 313

[4] JOHNSON, Samuel. The History of the Yorubas: From the Earliest Times to the Beginning of the British Protectorate. Lagos: CMS (Nigeria) Bookshop, 1956, p. 106

[5] GOMES, Laurentino. Escravidão v. II, Rio de Janeiro:GloboLivros, 2021, p. 146







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