O povo Marajoara
se situava ao lado do vizinho povo Tapajós que habitava a foz do Amazonas e
todo o trecho do Rio Tapajós, responsável pela chamada arte tapajônica. As
fontes coloniais mencionam o talento dos índios tapajós ao esculpir madeira e
fazer tecidos de algodão ou produzir cerâmicas como os vasos de cariátides[1]. Nas
proximidades de Santarém, na foz do rio Tapajós, no baixo Amazonas, a cerâmica
do lago Grande, com ponteado zonado, como a de Poço e a da cerâmica Aldeia
Barrancoide, permanece ainda sem datação.[2] Frederico
Barata argumenta com base nas Crônicas do padre Betendorf no século XVIII que
os tapajós não eram da raça tupi de modo que os tupi guarani do sul não chegaram
a atingir uma ornamentação pintada ou incisa de suas cerâmicas como se observa
no norte.[3] A cerâmica tapajoara foi descoberta por Nimuendaju
em 1923 que reuniu importante coleção para o Museu de Gotenburgo na Suécia e
mais tarde algumas peças para o Museu Goeldi. As cerâmicas incluem
representações de diversos animais da floresta em que se destaca as cerâmicas
de cariátides com relevos e ornatos esculpidos com formas zoomorfas[4] que
confere ao conjunto uma “pompa barroca”.[5] A figura
mostra uma peça cariátide que compunha a coleção Valentim Bouças do Museu
Nacional. Até então havia um desconhecimento desta cultura a ponto de Ladislau
Neto em 1895 ao escrever as “investigações sobre arqueologia brasileira”
atribuiu ao povo Marajó uma cariátide tipicamente dos Tapajó.[6] Segundo
Fernando barata: “Lícito é supor que os Tapajó, como os marajoara, tenham
sido de fixação relativamente recente no vale amazônico, no qual teriam
penetrado, vindos do norte, descendo o Orenoco ou pelas Antilhas, em época não
muito distanciada do descobrimento, e já adiantados na arte de ceramistas”.
Segundo Reinaldo Lopes: “a arte
tapajônica é fascinante por si só, obviamente, mas também pode ser utilizada
como indicador da complexidade econômica e social dos ocupantes originais de
Santarém, por um motivo bastante simples. Não é brincadeira produzir um vaso de
cariátides ou um muiraquitã. O sujeito precisa de um bocado de treinamento e
habilidade acima da média para criar objetos tão refinados, e esse grau de
especialização talvez não seja compatível com a necessidade de pegar no cabo d
enxada [...] Por outro lado, se o artífice em questão está inserido numa
sociedade relativamente hierarquizada, na qual há excedente de alimentos e
algum grau de especialização econômica fica mais fácil explicar a existência de
vasos decorados e amuletos”.[7] Esta
perspectiva contradiz a abordagem de historiadores como Francisco Varnhagen
nega a possibilidade de se denominar de civilização as culturas indígenas
anteriores ao século XVI mas de “barbárie
e de atraso. De tais povos na infância não há história há só etnografia”.[8] Os tapajós
mantiveram-se incólumes por mais de um século após a chegada dos portugueses ao
Brasil, pois estes somente em 1657 irão se estabelecer na região com as
chegadas dos primeiros jesuítas. Passados duzentos anos, o antropólogo Henry Bates,
que esteve na. Amazônia no período de 1848 a 1859 descreve sobre os sobreviventes
tapajós: “poucos escaparam da carnificina subsequente, e, por este motivo,
quase não se encontra um velho ou homem de meia idade no lugar”.
[1] LOPES, Reinaldo. 1499 o
Brasil antes de Cabral,Rio de Janeiro:Harper Collins, 2017, p. 136; HETZEL,
Bia; MEGREIROS, Silvia. Prehistory of Brazil. Rio de Janeiro:Manati, 2007, p.
84
[2] ROOSEVELT, Anna Curtenius. Arqueologia Amazônica. In: CUNHA, Manuela Carneiro.
História dos índios no Brasil, São Paulo:Cia das Letras, 1992, p. 67
[3] BARATA, Frederico. As artes plásticas no Brasil, Arqueologia, Rio de Janeiro:
Ediouro, 1968, p. 102
[4] ALVES, Marcony Lopes. Para além de Santarém: os vasos de gargalo na bacia do
rio Trombetas, Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, vol.
13, núm. 1, pp. 11-36, 2018 https://www.redalyc.org/jatsRepo/3940/394056632001/html/index.html
[5] BARATA, Frederico. As artes plásticas no Brasil, Arqueologia, Rio de Janeiro:
Ediouro, 1968, p. 165
[6] BARATA, Frederico. As artes plásticas no Brasil, Arqueologia, Rio de Janeiro:
Ediouro, 1968, p. 160
[7] LOPES, Reinaldo. 1499 o
Brasil antes de Cabral,Rio de Janeiro:Harper Collins, 2017, p. 139
Nenhum comentário:
Postar um comentário