terça-feira, 20 de julho de 2021

Os pedreiros medievais

 

Os pedreiros medievais estavam divididos em duas categorias os assentadores que construíam paredes e obras de alvenaria sólida e os mestres de cantaria ou pedreiros livres que trabalhavam a pedra de cantaria e que talhavam e esculpiam blocos individuais de pedra para molduras de arco, ornamentos de janelas e outras partes da construção. Serge Hutin observa que originalmente o termo franc maçon se referia ao trabalho em pedra livre free stone mason  em oposição aos que trabalhavam com pedras duras, sendo todos cristãos e filhos devotados da Igreja. Jean Gimpel observa que o termo franc maçon era desconhecido na idade medieval sendo uma criação do século XVIII. Em 1356 haviam guildas de construtores em Londres e suas regras de conduta no alojamento de York estão descritas no York Fabric Roll que recebia pedreiros estrangeiros.[1] Henrich van der Loon aponta esta movimentação dos pedreiros livres levou a um verdadeiro “internacionalismo espiritual” em que ao artesão buscava participar de uma obra grandiosa, adquirindo conhecimentos e técnicas novas de construção, sobrepujando seus interesses bairristas[2]. Éliphas Lévi aponta como origem da maçonaria a associação de pedreiros formada no tempo da construção da catedral de Estrasburgo na França[3]: “o fim alegórico da maçonaria é a reconstrução do templo de Salomão; o fim real e a reconstituição da unidade social pela aliança da razão e da fé, e o restabelecimento da hierarquia, conforme a ciência e a virtude, com a iniciação e as provas por graus”. Uma assembleia foi convocada em 1275 para o estabelecimento de uma fraternidade para continuação dos trabalhos na catedral reunindo construtores ingleses e alemães que passaram a usar a denominação de freemasons ou steinmetzen sendo eleito Erwin de Steinbach como mestre de cátedra (Meister von Stuhl)[4] e que mantinham os segredos de construção. Elias Barreto indica Erwin von Steinback, arquiteto da catedral de Estrasburgo, como fundador em 1275 da primeira confraria de pedreiros leigos, separando-os das confrarias religiosas, o que levaria a denominação de pedreiros livres. [5] Um dos membros dessas associações chamada “Dever de Liberdade” afirma seu compromisso: “Juro e prometo guardar fielmente e para sempre os segredos dos companheiros de Liberdade, deste Dever e de sua companhia; prometo nunca escrever nada, nem uma palavra, sobre qualquer coisa que possa revelá-los aos profanos. Preferiria e mereceria ser degolado, meu corpo queimado, minhas cinzas atiradas aos ventos, se fosse tão covarde em revela-los; prometo quebrar a cara de quem perjure; que o mesmo aconteça seu o fizer”.[6] Jacques le Goff, contudo aponta que a reivindicação da existência de tais segredos da construção de catedrais é tardia e aparece apenas no século XVIII entre os francomaçons.[7] Para Lennnohoff a referência das origens no reinado de Salomão são resultante do desejo dos maçons em conferir uma origem misteriosa e muito antiga[8]. O maçom José Castellani considera a influência egípcia na maçonaria como nula, e como uma lenda a história sobre ao rei Hiram Abif como construtor do tempo de Salomão, quando as referências históricas que temos é de que ele foi um mero entalhador de metais.[9]



[1] HODGETT, Gerald. História social e econômica da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1975, p.157

[2] LOON, Hendrick van. As artes. Porto Alegre:Edição da Livraria do Globo, 1941, p. 204

[3] LÉVI, Éliphas. História da magia, São Paulo:Pensamento, 2010, p.271

[4] ASLAN, Nicola. A maçonaria operativa, Rio de Janeiro: Aurora, 1979, p. 208, 213

[5] BARRETO, Elias. Enciclopedia das grandes invenções e descobertas, São Paulo: Cascono Editores, 1971, p. 219

[6] LIMA, Heitor Ferreira. Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro:Fundo de Cultura, 1961, p. 243

[7] GOFF, Jacques. A idade média explicada aos meus filhos, Rio de Janeiro:Agir, 2007, p. 48

[8] SCHREIBER, Hermann; SCHREIBER, Georg. História e mistérios das sociedades secretas, São Paulo, IBRASA, 1982, p.224

[9] CASTELLANI, José. A ciência maçônica e as antigas civilizações, Santos:Traço Editora, 1990, p.31; YATES, Frances. O iluminismo rosacruz, São Paulo:Pensamento, 1983, p.270



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