Os pedreiros medievais estavam divididos em duas categorias os
assentadores que construíam paredes e obras de alvenaria sólida e os mestres de
cantaria ou pedreiros livres que trabalhavam a pedra de cantaria e que talhavam
e esculpiam blocos individuais de pedra para molduras de arco, ornamentos de
janelas e outras partes da construção. Serge Hutin observa que originalmente o
termo franc maçon se referia ao
trabalho em pedra livre free stone mason em oposição aos que trabalhavam com pedras
duras, sendo todos cristãos e filhos devotados da Igreja. Jean Gimpel observa
que o termo franc maçon era
desconhecido na idade medieval sendo uma criação do século XVIII. Em 1356
haviam guildas de construtores em Londres e suas regras de conduta no
alojamento de York estão descritas no York
Fabric Roll que recebia pedreiros estrangeiros.[1] Henrich van der Loon aponta esta movimentação dos pedreiros livres levou a um
verdadeiro “internacionalismo espiritual”
em que ao artesão buscava participar de uma obra grandiosa, adquirindo conhecimentos
e técnicas novas de construção, sobrepujando seus interesses bairristas[2]. Éliphas
Lévi aponta como origem da maçonaria a associação de pedreiros formada no tempo
da construção da catedral de Estrasburgo na França[3]: “o fim alegórico da maçonaria é a
reconstrução do templo de Salomão; o fim real e a reconstituição da unidade social
pela aliança da razão e da fé, e o restabelecimento da hierarquia, conforme a
ciência e a virtude, com a iniciação e as provas por graus”. Uma assembleia
foi convocada em 1275 para o estabelecimento de uma fraternidade para continuação
dos trabalhos na catedral reunindo construtores ingleses e alemães que passaram
a usar a denominação de freemasons ou
steinmetzen sendo eleito Erwin de
Steinbach como mestre de cátedra (Meister
von Stuhl)[4] e que mantinham os segredos de construção. Elias Barreto indica Erwin von
Steinback, arquiteto da catedral de Estrasburgo, como fundador em 1275 da
primeira confraria de pedreiros leigos, separando-os das confrarias religiosas,
o que levaria a denominação de pedreiros livres. [5] Um dos
membros dessas associações chamada “Dever de Liberdade” afirma seu compromisso:
“Juro e prometo guardar fielmente e para sempre os segredos dos companheiros
de Liberdade, deste Dever e de sua companhia; prometo nunca escrever nada, nem
uma palavra, sobre qualquer coisa que possa revelá-los aos profanos. Preferiria
e mereceria ser degolado, meu corpo queimado, minhas cinzas atiradas aos
ventos, se fosse tão covarde em revela-los; prometo quebrar a cara de quem
perjure; que o mesmo aconteça seu o fizer”.[6] Jacques
le Goff, contudo aponta que a reivindicação da existência de tais segredos da
construção de catedrais é tardia e aparece apenas no século XVIII entre os
francomaçons.[7] Para Lennnohoff a referência das origens no reinado de Salomão são resultante
do desejo dos maçons em conferir uma origem misteriosa e muito antiga[8]. O maçom
José Castellani considera a influência egípcia na maçonaria como nula, e como
uma lenda a história sobre ao rei Hiram Abif como construtor do tempo de
Salomão, quando as referências históricas que temos é de que ele foi um mero
entalhador de metais.[9]
[1] HODGETT, Gerald.
História social e econômica da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1975, p.157
[2] LOON, Hendrick van. As artes. Porto Alegre:Edição da Livraria do Globo, 1941,
p. 204
[3] LÉVI, Éliphas. História
da magia, São Paulo:Pensamento, 2010, p.271
[4] ASLAN, Nicola. A
maçonaria operativa, Rio de Janeiro: Aurora, 1979, p. 208, 213
[5] BARRETO, Elias.
Enciclopedia das grandes invenções e descobertas, São Paulo: Cascono Editores,
1971, p. 219
[6] LIMA, Heitor Ferreira.
Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro:Fundo de Cultura, 1961, p. 243
[7] GOFF, Jacques. A idade
média explicada aos meus filhos, Rio de Janeiro:Agir, 2007, p. 48
[8] SCHREIBER, Hermann;
SCHREIBER, Georg. História e mistérios das sociedades secretas, São Paulo,
IBRASA, 1982, p.224
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