segunda-feira, 19 de julho de 2021

Os investimentos de Isaac Newton no comércio de escravos

 

Segundo a denominada "Nova História do Capitalismo" tal como proposta por historiadores como Eric Williams, Edward Baptist e Sven Beckert, a industrialização dos EUA estaria ligada ao acesso a algodão barato, fruto da exploração violenta dos escravizados, de modo que o escravismo não foi um elemento incompatível com o capitalismo, pelo contrário, foi um de seus fundamentos. Eric Williams argumenta que o capitalismo mercantil do século XVIII dependeu dos lucros do tráfico de escravos, de  forma que desenvolveu a riqueza da Europa por meio da escravidão assim como do monopólio dos produtos coloniais e com isso ajudou a criar o capitalismo industrial do século XIX: “os lucros obtidos forneceram um dos principais fluxos da acumulação do capital, que, na Inglaterra, financiou a Revolução Industrial”.[1] Eric Williams mostra o paradoxo de que a base do liberalismo econômico do sistema capitalista tenham sido construída sobre os lucros do mercantilismo monopolista. O liberal John Locke Em seu livro “Segundo tratado sobre o governo”, no Capítulo IV intitulado “Da escravidão” ele afirma que a escravidão é válida em uma condição: quando se vence uma guerra e o derrotado opta por servir ao invés de morrer. John Locke foi acionista da Royal African Company, empresa especializada no tráfico negreiro que entre os anos de 1672 a 1689 transportou aproximadamente 100mil escravos, assim como acionista da Bahama Adventurers. Isaac Newton (na figura), Daniel Defoe autor de Robinson Crusoé e Jonathan Swift autor de As viagens de Gulliver eram acionistas minoritários da companhia South Sea Company que transportava escravos em navios negreiros.[2] Andrew Odlyzko mostra como Isaac Newton investiu na empresa que se tornou uma bolha financeira e levou a prejuízos de 20 mil libras, incapaz de competir com os traficantes brasileiros e portugueses.[3] O caso das plantações de tabaco da Virgínia Eric Williams mostra que a única razão para deslocar o pequeno proprietário substituindo pelo trabalho escravo foram os fatores econômicos como forma de baixar os custos de produção permitindo assim o aumento das exportações.[4] Da mesma forma sem a escravidão a produção de cana de açúcar no Caribe entre 1650 e 1850 teria sido impossível.[5] Adam Smith constatou que “os lucros de uma fazenda canavieira em qualquer uma de nossas colônias das Índias Ocidentais são geralmente muito maiores do que os de qualquer outra cultura agrícola que se conheça na Europa ou na América”.[6]

[1] WILLIAMS, Eric. Capitalismo & escravidão, São Paulo: Cia das Letras, 2012, p.284, 90, 104

[2] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.II, São Paulo: Globo, 2021. p.301

[3] ODLYZKO, Andrew. Newton's financial misadventures in the South Sea Bubble. 29/08/2018 https://royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rsnr.2018.0018#d3e644

[4] WILLIAMS, Eric. Capitalismo & escravidão, São Paulo: Cia das Letras, 2012, p.58

[5] WILLIAMS, Eric. Capitalismo & escravidão, São Paulo: Cia das Letras, 2012, p.62

[6] WILLIAMS, Eric. Capitalismo & escravidão, São Paulo: Cia das Letras, 2012, p.91



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