Segundo a denominada "Nova História do Capitalismo" tal como proposta por historiadores como Eric Williams, Edward
Baptist e Sven Beckert, a industrialização dos EUA estaria ligada ao acesso a
algodão barato, fruto da exploração violenta dos escravizados, de modo que o
escravismo não foi um elemento incompatível com o capitalismo, pelo contrário,
foi um de seus fundamentos. Eric Williams argumenta que o capitalismo mercantil
do século XVIII dependeu dos lucros do tráfico de escravos, de forma que desenvolveu a riqueza da Europa por
meio da escravidão assim como do monopólio dos produtos coloniais e com isso
ajudou a criar o capitalismo industrial do século XIX: “os lucros obtidos forneceram um dos principais fluxos
da acumulação do capital, que, na Inglaterra, financiou a Revolução Industrial”.[1] Eric Williams mostra o
paradoxo de que a base do liberalismo econômico do sistema capitalista tenham
sido construída sobre os lucros do mercantilismo monopolista. O liberal John
Locke Em seu livro “Segundo tratado sobre
o governo”, no Capítulo IV intitulado “Da escravidão” ele afirma que a
escravidão é válida em uma condição: quando se vence uma guerra e o derrotado
opta por servir ao invés de morrer. John Locke foi acionista da Royal African
Company, empresa especializada no tráfico negreiro que entre os anos de 1672 a
1689 transportou aproximadamente 100mil escravos, assim como acionista da Bahama
Adventurers. Isaac Newton (na figura), Daniel Defoe autor de Robinson Crusoé e Jonathan Swift autor de As viagens de Gulliver eram acionistas minoritários da companhia South Sea Company que transportava
escravos em navios negreiros.[2] Andrew Odlyzko mostra como Isaac Newton investiu na empresa que se tornou uma
bolha financeira e levou a prejuízos de 20 mil libras, incapaz de competir com os traficantes brasileiros e portugueses.[3] O caso das plantações de tabaco da Virgínia Eric Williams mostra que a única
razão para deslocar o pequeno proprietário substituindo pelo trabalho escravo
foram os fatores econômicos como forma de baixar os custos de produção
permitindo assim o aumento das exportações.[4] Da mesma forma sem a escravidão a produção de cana de açúcar no Caribe entre
1650 e 1850 teria sido impossível.[5] Adam Smith constatou que “os lucros de uma
fazenda canavieira em qualquer uma de nossas colônias das Índias Ocidentais são
geralmente muito maiores do que os de qualquer outra cultura agrícola que se
conheça na Europa ou na América”.[6]
[1] WILLIAMS, Eric. Capitalismo
& escravidão, São Paulo: Cia das Letras, 2012, p.284, 90, 104
[2] GOMES,
Laurentino. Escravidão, v.II, São Paulo: Globo, 2021. p.301
[3] ODLYZKO, Andrew. Newton's financial
misadventures in the South Sea Bubble. 29/08/2018 https://royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rsnr.2018.0018#d3e644
[4] WILLIAMS, Eric. Capitalismo
& escravidão, São Paulo: Cia das Letras, 2012, p.58
[5] WILLIAMS, Eric.
Capitalismo & escravidão, São Paulo: Cia das Letras, 2012, p.62
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