quarta-feira, 14 de julho de 2021

O retrocesso da ocupação holandesa no Brasil

 

Lemos Brito contesta a suposta superioridade da colonização holandesa no Brasil: “dificilmente o Brasil teria alcançado o desenvolvimento de seu espírito nacional sob o pulso de ferro dos governos holandeses. A não ser em Recife, onde Maurício de Nassau se fez cercar de fausto e conforto, construindo moradias e pontes (como a ponte de Recife) que assegurassem sua defesa e trazendo arquiteto e pintores, tão do seu refinado gosto, que é que ficou da longa dominação holandesa no Brrasil ?”.[1] Wilson Martins o papel de pintores como Franz Post e A. Eckout, ou Zacarias Wagner, porém, não pode dizer que esse destaque da pintura holandesa na corte de Nassau pouco efeito teve sobre as artes da colônia: “Seria gratuito concluir dá que, reciprocamente possa haver um capítulo holandês na história da pintura brasileira. È imaginosa, mas pouco fundada na realidade, a ideia de que o Recife, durante esse período possa ser visto como um quisto da Renascença [como aponta José Honório Rodrigues e Joaquim Ribeiro em Civilização Holandesa no Brasil]. A ser verdadeiro, seria, ainda assim, retardatário e anacrônico. Parece igualmente inflada a afirmativa de que os holandeses e particularmente Maurício de Nassau tivessem transformado arquitetonicamente a cidade em fruto do renascimento. A Corte nassoviana é que foi um quisto cultural na Colônia, mas, por isso mesmo será difícil apontar concretamente para influências que se supõe tivesse exercido na vida intelectual e artística do país”.[2] Heitor Lima observa que os sete anos de governo de Nassau no Brasil (1637-1644) tem sido objeto de exagerados louvores de escritores brasileiros[3]. Para Mario Neme a ocupação holandesa não proporcionava liberdade comercial, política ou religiosa à Pernambuco, quando comparada a situação anterior dos portugueses na colônia: “a instituição do governo local no Brasil holandês marcou um nítido retrocesso, do ponto de vista das conquistas democráticas, em confronto com o regime vigorante no Brasil português”. Os portugueses estavam integrados na colônia às mesmas leis e ordenações da metrópole, tinham uma rede de tribunais legalistas, tinham a vantagem da nacionalidade.[4] O holandês pouco se integrava ao povo local ao contrário do português ao qual o rei estimulava o casamento com índias e mestiças. O governador Waerdenburch em 1632 chegou a mandar de volta para Holanda um casal recém desembarcado que não era legalmente casado para evitar possíveis concubinatos.[5] Mario Neme que não pode falar propriamente de uma colonização holandesa em Pernambuco pois a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais (em holandês: West-Indische Compagnie ou WIC) não tinha como um dos objetivos o povoamento de Recife, chegando mesmo a opor dificuldades nesse sentido como a recusa de uma proposta para trazer família da Holanda para o Sergipe.[6] Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil conclui que os poucos holandeses que vinham para Recife vinha apenas em busca de “fortunas impossíveis, sem imaginar criar fortes raízes na terra”. Para Mario Neme a forma de governo implantada em Pernambuco era nada mais do que mera sucursal da WIC cujo único objetivo era obtenção de lucros para seus sócios.[7]

[1] BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.54

[2] MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 168

[3] VIANNA, Helio. História do Brasil, primeira parte, período colonial. São Paulo: Melhoramentos, 1972, p.163

[4] NEME, Mario. Fórmulas políticas no Brasil holandês, São Paulo: Difusão, 1971, p. 257

[5] NEME, Mario. Fórmulas políticas no Brasil holandês, São Paulo: Difusão, 1971, p. 255

[6] NEME, Mario. Fórmulas políticas no Brasil holandês, São Paulo: Difusão, 1971, p. 253

[7] NEME, Mario. Fórmulas políticas no Brasil holandês, São Paulo: Difusão, 1971, p. 107



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