David Landes aponta o mecanismo de escape mecânico[1] como uma
grande invenção que permitiu a criação de relógios totalmente mecânicos. Daniel
Boorstin atribui a esta invenção medieval um papel revolucionário para a
experiência humana.[2] O escape trava uma roda por um momento para liberá-la em seguida marcando o
ritmo do ponteiro no relógio e consta de documentos de 1335 [3]. Com o
escape um peso caindo a uma curta distância era convertido em movimento de staccato (escape) poderia manter um
relógio trabalhando por horas. O movimento possibilitava engrenar e desengrenar
alternativamente os dentes do mecanismo do relógio de modo que a uniformidade
de suas medidas estava relacionado com a precisão e regularidade do escape. Usher
destaca a descrição de um mecanismo de escape na obra de Villard de Honnecourt
em 1250 em uma estrutura de uma estátua de um anjo que sempre aponta para o
sol, mecanismo que denomina "cest li masons don orologe" (casa
do relógio) e que os descreve junto com mecanismos de movimento perpétuo.[4] Frances
Gies observa que o mecanismo de escapa é descrito de forma tão grosseira que
provavelmente não teve nenhuma influência na invenção dos mecanismos de escape usados posteriormente em relógios.[5] As mais
antigas descrições completas do escape em relógios mecânicos são encontradas no
tratado de Dondi que descreve um relógio planetário, o astrarium, terminado em 1364 e no poema de Froissart Li orloge amoureus escrito em 1368 que
teria sido baseado em grande parte no relógio construído para o Palais de
Justice por Henri Vick iniciado em 1364 e terminado em 1370.[6] O
relógio de Dondi utiliza o mecanismo de escape (na figura) desenvolvido pelos chineses
séculos antes.[7] Em sua obra Il Tractatus Astrarii de
1364 Dondi recusa em descrever seu mecanismo de escape formado por coroa e foliot
(verge and foliot) embora o mesmo esteja muito bem ilustrado dizendo que
se tratava de uma técnica bastante comum de sua época tratando-a como algo
bastante simples de amplo conhecimento e que não merece maiores detalhamentos
por ser trivial.[8] Dondi adverte o leitor que se não consegue entender tais trivialidades então
terá dificuldade em compreender as dificuldades dos mecanismos de seu relógio.
Derek Sola Price aponta que Dondi demonstra estar falando em tom retórico para
supervalorizar sua invenção, pois se uma invenção revolucionária é tratada com
tal desprezo então seu relógio tende a ser considerado ainda mais genial.[9] Jacques
le Goff aponta esta invenção como responsável pela laicização do tempo, que
deixa de ser um privilégio da igreja. Derek Sola Price mostra a presença de
mecanismos de escape em relógios descritos nas tábuas astronômicas Afonsinas do
rei de Castela Alfonso X o sábio, publicadas em 1252 quando de sua ascenção ao
trono e que se tornaram uma referência medieval nos cálculos astronômicos,
previsões de eclipses, cálculos de calendários e horóscopos. Derek Solla Prce
mostra que o desenvolvimento do mecanismo de escape está diretamente relacionado
com a busca de máquinas de movimento perpétuo, perpetuum Mobile.
[1] https://en.wikipedia.org/wiki/Verge_escapement
[2] BOORSTIN, Daniel. Os
descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.49
[3] DELUMEAU, Jean. A
civilização do Renascimento, Lisboa:Estampa, 1984, v.I, p.175
[4] USHER, Abbott. Uma
história das invenções mecânicas, Campinas:Papirus, 1993, p. 260; FRUGONI,
Chiara. Invenções da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 2007, p. 85
[5] GIES,
Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper
Collins, 1994, p. 211
[6] USHER, Abbott. Uma
história das invenções mecânicas, Campinas:Papirus, 1993, p. 269
[7] CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books,
1963, p. 331
[8] GIES,
Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper
Collins, 1994, p. 212, 214
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