Karel Slenar mostra que há
grande possibilidade do homo erectus
ter o domínio da fala estimulada pelas habilidades no desenvolvimento de
ferramentas e na necessidade de compartilhar esse conhecimento. O trabalho como
atividade social será o fator que determinará o ritmo da evolução humana.[1] Em 1861 Paul Broca comprovou
a existência de uma zona cerebral dedicada à fala conhecida como “área de
Broca” que era compatível com a caixa craniana dos Neandertais. A descoberta em
1983 em Kebara (Israel) de um osso hioide de um Neandertal sugere uma anatomia
capaz de produzir sons semelhantes aos humanos modernos[2], no entanto, o registro
fóssil de ferramentas de pedra pouco desenvolvido mesmo após 2 milhões de anos
após a descoberta do Homo habilis, coloca
em dúvida a capacidade de fala do homem de Neandertal.[3] Richard Klein reconhece
algum grau de fala humanoide no homo
ergaster.[4] Para James Adovasio “a fala foi
provavelmente impelida no começo pela necessidade de lidar com as relações
sociais”.[5] Arnold Toynbee destaca que “o homem deve
ter sido certamente um animal social antes de inventar a linguagem, mas a
invenção da linguagem pelo homem pode ter sido um acontecimento muito mais
recente do que sua aquisição de sociabilidade, pois há outras espécies de
animais sociais (por ex, os insetos sociais) que se comunicam de forma eficaz
para a manutenção de sua cooperação social necessária, sem possuírem uma
linguagem articulada. As abelhas, por exemplo, parecem comunicar informações e
instruções umas às outras pela mímica física que, se fossem seres humanos,
descreveríamos como dança”.[6] Em 1998, usando métodos
estatísticos para estimar o tempo necessário para atingir a atual difusão e
diversidade de línguas modernas de hoje, a linguista da Universidade da
Califórnia Johanna Nichols argumentou que as línguas vocais devem ter começado
a diversificar em nossa espécie pelo menos 100 mil anos atrás. Daniel Everett em
“Linguagem: a história da maior invenção
da humanidade” a linguagem foi uma criação do Homo erectus no Paleolítico há cerca de 2 milhões de anos: “O
primeiro tipo de evidência são as ferramentas que faziam. As ferramentas
seguiam padrões culturais. [...] Tinha um conjunto relativamente grande de
ferramentas distintas. Quando o pai pedia para o filho buscar uma ferramenta,
ele tinha que ter um nome [...] Eles viajavam muito e o mar não era uma
barreira. Para fazer barcos, e eles tinham que fazer barcos, você tem que ter
linguagem”[7].
Para Noam Chomski, por outro lado, a linguagem é uma forma de expressão
derivada de uma mutação genética fortuita que teria ocorrido há apenas 50 mil
já com os homo sapiens no Neolítico. Mercedes
Conde-Valverde [8] em análises de tomografias computadorizadas e modelos 3D de ossos que formavam
o sistema auditivo sugere que os neandertais tinham um sistema de comunicação
vocal semelhante à fala humana. A fala do neandertal teria envolvido um aumento
do uso de consoantes - um sinal vocal que separa a fala e a linguagem humana
dos padrões de comunicação em outros primatas, que são capazes de fazer sons de
vogais.
[1] SKLENAR, Karel. La vie
dans la préhistoire, Praga:Grund, 1991, p.19, 28
[2] NEVES, Walter. Assim
caminhou a humanidade, São Paulo:Palas Athena, 2015, p.209, 231; CONDEMI,
Silvana; SAVATIER, François. Neandertal, nosso irmão, São Paulo: Vestígio,
2018, p. 140
[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/Origem_da_linguagem
[4] ADOVASIO, James;
SOFFER, Olga; PAGE, Jake. Sexo invisível: Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 113
[5] ADOVASIO, James;
SOFFER, Olga; PAGE, Jake. Sexo invisível: Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 123
[6] TOYNBEE, Arnold. A
humanidade e a mãe terra, Rio de Janeiro:Zahar, 1976, p.44
[7] https://gshow.globo.com/programas/conversa-com-bial/noticia/especialista-desafia-teorias-cientificas-ao-afirmar-que-linguagem-teve-inicio-com-homo-erectus-ha-mais-de-um-milhao-de-anos.ghtml
Nenhum comentário:
Postar um comentário