domingo, 25 de julho de 2021

A fala do homem de Neandertal

 

Karel Slenar mostra que há grande possibilidade do homo erectus ter o domínio da fala estimulada pelas habilidades no desenvolvimento de ferramentas e na necessidade de compartilhar esse conhecimento. O trabalho como atividade social será o fator que determinará o ritmo da evolução humana.[1] Em 1861 Paul Broca comprovou a existência de uma zona cerebral dedicada à fala conhecida como “área de Broca” que era compatível com a caixa craniana dos Neandertais. A descoberta em 1983 em Kebara (Israel) de um osso hioide de um Neandertal sugere uma anatomia capaz de produzir sons semelhantes aos humanos modernos[2], no entanto, o registro fóssil de ferramentas de pedra pouco desenvolvido mesmo após 2 milhões de anos após a descoberta do Homo habilis, coloca em dúvida a capacidade de fala do homem de Neandertal.[3] Richard Klein reconhece algum grau de fala humanoide no homo ergaster.[4] Para James Adovasio “a fala foi provavelmente impelida no começo pela necessidade de lidar com as relações sociais”.[5] Arnold Toynbee destaca que “o homem deve ter sido certamente um animal social antes de inventar a linguagem, mas a invenção da linguagem pelo homem pode ter sido um acontecimento muito mais recente do que sua aquisição de sociabilidade, pois há outras espécies de animais sociais (por ex, os insetos sociais) que se comunicam de forma eficaz para a manutenção de sua cooperação social necessária, sem possuírem uma linguagem articulada. As abelhas, por exemplo, parecem comunicar informações e instruções umas às outras pela mímica física que, se fossem seres humanos, descreveríamos como dança”.[6] Em 1998, usando métodos estatísticos para estimar o tempo necessário para atingir a atual difusão e diversidade de línguas modernas de hoje, a linguista da Universidade da Califórnia Johanna Nichols argumentou que as línguas vocais devem ter começado a diversificar em nossa espécie pelo menos 100 mil anos atrás. Daniel Everett em “Linguagem: a história da maior invenção da humanidade” a linguagem foi uma criação do Homo erectus no Paleolítico há cerca de 2 milhões de anos: “O primeiro tipo de evidência são as ferramentas que faziam. As ferramentas seguiam padrões culturais. [...] Tinha um conjunto relativamente grande de ferramentas distintas. Quando o pai pedia para o filho buscar uma ferramenta, ele tinha que ter um nome [...] Eles viajavam muito e o mar não era uma barreira. Para fazer barcos, e eles tinham que fazer barcos, você tem que ter linguagem”[7]. Para Noam Chomski, por outro lado, a linguagem é uma forma de expressão derivada de uma mutação genética fortuita que teria ocorrido há apenas 50 mil já com os homo sapiens no Neolítico. Mercedes Conde-Valverde [8] em análises de tomografias computadorizadas e modelos 3D de ossos que formavam o sistema auditivo sugere que os neandertais tinham um sistema de comunicação vocal semelhante à fala humana. A fala do neandertal teria envolvido um aumento do uso de consoantes - um sinal vocal que separa a fala e a linguagem humana dos padrões de comunicação em outros primatas, que são capazes de fazer sons de vogais.



[1] SKLENAR, Karel. La vie dans la préhistoire, Praga:Grund, 1991, p.19, 28

[2] NEVES, Walter. Assim caminhou a humanidade, São Paulo:Palas Athena, 2015, p.209, 231; CONDEMI, Silvana; SAVATIER, François. Neandertal, nosso irmão, São Paulo: Vestígio, 2018, p. 140

[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/Origem_da_linguagem

[4] ADOVASIO, James; SOFFER, Olga; PAGE, Jake. Sexo invisível: Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 113

[5] ADOVASIO, James; SOFFER, Olga; PAGE, Jake. Sexo invisível: Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 123

[6] TOYNBEE, Arnold. A humanidade e a mãe terra, Rio de Janeiro:Zahar, 1976, p.44

[7] https://gshow.globo.com/programas/conversa-com-bial/noticia/especialista-desafia-teorias-cientificas-ao-afirmar-que-linguagem-teve-inicio-com-homo-erectus-ha-mais-de-um-milhao-de-anos.ghtml

[8] Conde-Valverde, M., Martínez, I., Quam, R.M. et al. Neanderthals and Homo sapiens had similar auditory and speech capacities. Nat Ecol Evol 5, 609–615 (2021). https://www.nature.com/articles/s41559-021-01391-6



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