segunda-feira, 26 de julho de 2021

Evaristo Engelbert: um inventor brasileiro no Império

 

Warren Dean observa que “O fabrico de açúcar, o acondicionamento da carne, o descaroçamento e o enfardamento do algodão, o curtume dos couros e o beneficiamento do café, figuravam entre as primeiras linhas de produção que seriam utilizados o vapor e a energia elétrica. É interessante notar que no processamento de café – descascar, separar, secar e classificar – não havia máquinas europeias ou norte americanas fabricadas com essas finalidades, e os inventores brasileiros criaram o seu próprio equipamento, acicatados pela escassez de escravos e, mais tarde, pela necessidade de poupar mão de obra assalariada”.[1] A conservação de carne pelos frigoríficos possibilitou que a Argentina se tornasse grande exportadora de carne de ovelha e outros tipos de carne.[2] Em São Paulo em 1880 Evaristo Conrado Engelberg inventou uma máquina de beneficiar café tendo obtido uma patente que veio a ser vendida a um grupo de norte americanos que fundaram uma companhia para fabricá-la junto com Alexandre Siciliano[3]. Localizada em Syracuse, Nova Iorque, com o nome de a Engelberg Huller Company, essa firma foi extremamente bem sucedida, vendendo a máquina nas áreas produtoras de café de todo o mundo e inclusive era importada no Brasil por F. Upton Company com ajuda de alguns dos financiadores originais de Engelberg.[4] João Conrado Engelberg junto com Pedro Alberto Engelberg e Alípio Conrado Engelberg solicitaram a patente da dita máquina de Engelberg no Brasil que foi concedida pelo Decreto 148 de 1884. Roberto Simonsen destaca que a cultura cafeeira por sua natureza especial não facilitava o trabalho mecânico.[5] Enquanto nos engenhos de açúcar os escravos representam algo em torno de 15% do capital imobilizado nos demais aparelhamentos, nas fazendas de café este índice corresponde entre 30% a 40% do total de investimento. Será em São Paulo que se observa o avanço das técnicas com patentes concedidas para mecanismos para o tratamento e beneficiamento do café.[6] Em 1885 Evaristo Engelberg formou sociedade com o futuro Conde Siciliano, surgindo assim a “Engelberg & Siciliano”, com sede em Piracicaba. Em 1890, a Gazeta de Piracicaba noticiava que Evaristo Conrado Engelberg fora nomeado membro correspondente da Academia Parisiense de Inventores, sendo distinguido com uma medalha de Ouro. Renata Cipolli observa que o exemplo de Engelberg mostra que “a tecnologia desenvolvida no Brasil para beneficiar café e outros produtos agrícolas aperfeiçoou-se e atingiu níveis elevados de qualidade e eficiência mecânica. Uma evidência é que projetos e máquinas de inventores nacionais foram exportados para mercados competitivos internacionais. Alguns dos exemplos mais expressivos foram os descascadores de arroz e café patenteados pelos inventores e membros da família Engelberg. A qualidade e eficiência desses descascadores levou-os a disputar o mercado internacional, superando inclusive a capacidade de produção e distribuição da fabricação local”. O destaque alcançado pelo café beneficiado no descascador de café Engelberg na Exposição Universal de Paris em 1889 aumentou o interesse dos cafeicultores paulistas no equipamento.

[1] DEAN, Warren. A industrialização brasileira na República Velha. In: FAUSTO, Boris. O Brasil Republicano, tomo III, v. I Estrutura de poder e economia (1889-1930), São Paulo:Difel, 1977, p.174

[2] LESSA, Ricardo. Brasil e Estados Unidos: o que fez a diferença, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 2008, p.87

[3] CALDEIRA, Jorge. História da Riqueza no Brasil, Rio de Janeiro:Estação Brasil, 2017, p.413

[4] DEAN, Warren. A industrialização de São Paulo. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1971, p. 18 e 82; LESSA, Ricardo. Brasil e Estados Unidos: o que fez a diferença, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 2008, p.96

[5] SIMONSEN, Roberto. Evolução industrial do Brasil e outros estudos. Brasiliana, n.349, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1973, p. 9

[6] SIMONSEN, Roberto. Evolução industrial do Brasil e outros estudos. Brasiliana, n.349, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1973, p.219



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